domingo, 13 de janeiro de 2013

Maré avança e deixa moradores e órgãos públicos de Atafona preocupados



Casas estão sobre risco de desabar a qualquer momento
 Mauro de Souza

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Parece que os trechos do saudoso ‘rei do baião’ Luiz Gonzaga, o Gonzagão vem se concretizando pouco a pouco nas praias da região.
Após a matéria especia“Ruínas de Atafona: Histórias de famílias levadas pelas águas do mar” feita pelo Site Ururau há uma semana no balneário sanjoanense, a equipe de reportagem voltou ao local onde constatou que o mar havia avançado quase seis metros em uma semana. Moradores, veranistas e órgãos públicos estão preocupados com a situação.

Na tarde desta sexta-feira (11/01), uma família foi removida por agentes da Defesa Civil Municipal de São João da Barra para um abrigo público no município, após a interdição de sua residência. Com o avanço da maré, na tarde de sexta até a madrugada deste sábado (12/01), parte do imóvel dos residentes foi levado pelas ondas do mar.
O coordenador da Defesa Civil, Adriano Martins de Assis disse a reportagem que várias famílias já foram notificadas quanto ao risco de permanecerem no local, no entanto, alguns ainda oferecem resistência e não aceitam deixar suas casas.
“A família que foi levada ontem (sexta-feira – 11/01) já havia sido notificada há um bom tempo. Dessa vez não teve jeito, pois a maré avançou mais de um metro e levou parte da estrutura da casa deles. De acordo com dados da Marinha do Brasil, de onde obtemos essas informações, a previsão é de que a partir das 21h, a maré já irá começar a diminuir um pouco, podendo chegar a um metro”, informou o coordenador.
Preocupados com a situação e com a possibilidade de perder seu estabelecimento comercial, o casal Deusimar Campista, conhecido como Campista, 51 anos e Vânia Nogueira, 46, contaram que já tiraram quase tudo do bar por conta da aproximação da maré.

“A gente se sente ameaçado, por isso, resolvemos tirar nossos pertences e os eletrodomésticos de dentro do bar. Este é o terceiro verão que estamos aqui e ficamos tristes, pois compramos todo o estoque para abastecer o local para esta temporada. Infelizmente não podemos fazer nada contra a natureza. Agora é aceitar a situação e entregar para Deus”, lamentou Vânia acrescentando que o chão está rachando e pode ceder a qualquer momento.
Pescador e morador de Atafona há mais de 15 anos , José Luis Gonçalves Rosa, 38 anos, está temeroso, pois sua casa também está ameaçada de cair a qualquer momento. “Eu só saio daqui se tiver a certeza de que terei uma casa para morar com minha família. Não vejo ninguém fazer nada por nós aqui e isso é lamentável. Eu vivo da pesca e se cair tudo aqui não terei para onde ir”, lamentou.

ATAFONA: RELATOS DE UMA HISTÓRIA

Com três livros publicados sobre a história de Atafona, o jornalista João Noronha relatou  o porquê do balneário sanjoanense ser um dos mais prejudicados por conta da maré alta.
Segundo ele, Atafona, por ficar na foz do rio, rio esse que a cada ano perde mais e mais sua força, tem algumas de suas casas construídas muito próximas do mar. O que não acontece em outras praias de São João da Barra como Grussaí e Chapéu do Sol, onde as residências são mais distantes da orla marítima.
“O rio vai se enfraquecendo e o mar avançando. O que acontece em Atafona é que o mar, hoje, tenta recuperar o espaço que ele perdeu com as intervenções do homem e as ocupações irregulares. Tudo isso que está acontecendo tem uma série de fatores que contribuíram para o mar se afastar e recuar”, informou Noronha acrescentando:
“O mar na verdade é um ciclo de avanços e recuos. Então ele avança durante quatro ou cinco anos e recua oito, voltando a avançar novamente, só que dessa vez, destruindo tudo que encontra pela frente”.
O jornalista, que também perdeu uma casa para o mar, residência esta pertencente a três gerações de sua família, uma belíssima chácara de 1.700 m², contou que hoje, evita de ir ao balneário sanjoanense para não relembrar o ocorrido. “Foi lá que eu passei toda minha infância e adolescência. Eu vivi ali até 2005 e perdi a casa no ano de 2006. É lamentável Atafona perder cada vez mais seu espaço e sua história. A parte antiga da praia está totalmente comprometida. É uma perda significativa”, lamentou Noronha.
 
PRAIA NÃO ESTÁ LIBERADA PARA BANHO
De acordo com o coordenador da Defesa Civil, Adriano Martins de Assis, com a maré cheia, a praia fica impossibilitada de ser utilizada pelos banhistas. “A gente pede e alerta para que as pessoas não se aproximem do local, mas as mesmas resistem e acabam entrando no mar mesmo sabendo dos perigos que correm”.
Na tarde da última quarta-feira (09/01), o agente da Guarda Civil Municipal Sidney Ananias Costa, desapareceu por volta das 14h30, nas águas do pontal, em Atafona. O corpo foi encontrado por mergulhadores do Corpo de Bombeiro Militar. Após a morte do agente, uma bandeira preta foi colada no local indicando que a área é de risco.
Salva vidas no Pontal, Gilmar dos Santos disse que sempre alerta os banhistas quanto as áreas de risco. Segundo ele, o local onde a tragédia aconteceu, é uma área utilizada somente para pesca e prática de surfe. 


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