Seu Zizo, de 77 anos, mora no assentamento Zumbi 2 há 14 anos e tem um documento de posse do lote. Parente de ex dono quer terra de volta.
Mãos calejadas, olhos cansados e simplicidade na fala. Estas são as principais características do assentado e agricultor Zizo Viana, de 77 anos. Sua história é longa e a trajetória repleta de muitas lições. Na sua vida nada foi fácil, e desde criança ele não sabe fazer outra coisa a não ser trabalhar sob sol e chuva acompanhado de sua velha amiga, a enxada.
Depois de anos vivendo em uma barraca de lona, quando trabalhava na lavoura de uma fazenda entre os municípios de Campos e São Francisco de Itabapoana, seu Zizo recebeu ajuda do antigo patrão e de amigos para ter sua própria terra. Há 14 anos seu sonho foi realizado e ele recebeu permissão do Incra para tomar posse de um lote no assentamento Zumbi núcleo 2, em Campos, onde mora. Mas, o que parecia ser um final feliz, virou um grande pesadelo quando seu Zizo recebeu uma notificação para deixar a terra até o dia quatro de agosto.
Sem saber o que fazer e a quem recorrer, o agricultor, pai de 21 filhos, avó de 50 netos e com 10 bisnetos, se desesperou e mais uma vez procurou ajuda dos amigos. O documento foi entregue em mãos, por um oficial de justiça, no último dia 11, que explicou que a ex-esposa de um antigo dono do lote reivindica o espaço.
"Fiz minha vida neste lugar. Foi o Incra que me deu o documento de posse, que tenho guardado até hoje. A terra era improdutiva e nestes anos, não fiz outra coisa a não ser trabalhar. Fiz roças de mandioca, de laranja, de limão, de cana, com minhas mãos e hoje a terra é produtiva. Já estou velho, cansado e não peguei nada de ninguém. Se o Incra me deu o lote 282 é porque podia e tenho o documento muito bem guardado. Se eu for embora daqui não tenho para onde ir. Não sei viver sem minha terra, minha lavoura", contou.
Seu Zizo tem um documento de posse emitido pelo Incra com data de abril de 2014. O agricultor também tem um documento emitido pelo órgão que atesta ser ele o dono do lote, mas este, sem data de emissão. Segundo um advogado amigo da família que orientou seu Zizo, o Incra precisa dar um parecer sobre o caso e o idoso não pode ser retirado de casa desta forma.
"Meu pai deu a vida por esta terra e o oficial vem aqui dizendo que até o dia quatro vem tirar tudo dele daqui. Ele não tem muito conhecimento, mas nós procuramos um advogado para nos orientar e vamos entrar com uma ação para tentar anular este processo. O Incra dá uma terra depois vem uma pessoa e quer tirá-la do meu pai? Isso é muita injustiça. Ele já está aqui há 14 anos, tornou a terra produtiva e sempre foi responsável com as coisas dele. Ele não vai sair da sua casa dessa forma", ressaltou a filha Maria das Dores.
Seu Zizo se emociona todas as vezes ao contar que acorda às 5h, olha pela janela a paisagem de sua lavoura, toma o café e sai para trabalhar. Ele ressalta ainda, que de tantos afazeres, vai dormir somente às 21h, já que ainda cuida de sua companheira que vive na cama devido a problemas nervosos.
"Minha vida desde que mudei para cá é cuidar da minha terrinha, deixar um chão para meus filhos. Lutei e trabalhei muito para isso. Dormi em barracas de lona por anos e nunca pensei que iam querer me expulsar dessa forma. Nem durmo mais direito, mas sei que conto com a ajuda da minha família e tenho fé que vou continuar minha vida como sempre, na minha casinha, que construí com o suor do meu trabalho ", concluiu.
Sempre respeitando o princípio do contraditório e buscando as diferentes versões para um mesmo fato, o jornal Terceira Via tentou contato por telefone com o Incra/RJ, sem obter resposta. Ainda assim, o jornal aguarda e publicará versão dele para este fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário