segunda-feira, 3 de julho de 2017

Transferência de bebê vítima de bala perdida levou mais de 3 horas

Recém-nascido baleado quando estava no útero da mãe ficou paraplégico e ainda luta pela vida

Rio - A luta pela vida travada pelo pequeno Arthur, que nasceu em Duque de Caxias há apenas três dias, após cesariana de emergência em decorrência de a mãe ter sido atingida por uma bala perdida, também encontrou obstáculos na burocracia e na falta de recursos do estado.

Claudineia dos Santos MeloReprodução Internet

Polliny Batista Pereira, médica do Hospital Municipal Moacyr do Carmo, diz que a equipe de plantão percebeu que o bebê morreria em poucas horas caso não houvesse uma intervenção imediata. Ela participou do atendimento da grávida Claudineia dos Santos Melo, de 28 anos. “Optamos pelo parto após a obstetra perceber, por meio de sinais emitidos pela criança, que ela estava em sofrimento. Acionamos uma ambulância com estrutura neonatal, mas a previsão dos bombeiros para a chegada do veículo era de pelo menos quatro horas. Eu expliquei a gravidade e disse que a criança tinha menos de três horas de vida, mas não adiantou”, lamentou.

Mas era apenas o começo de uma luta contra o relógio para salvar a vida de um bebê que nasceu após ser vítima de bala perdida quando ainda estava no útero da mãe. Mesmo diante da gravidade do quadro clínico, a ambulância neonatal só chegou à unidade por volta das 21h. Segundo a médica, a justificativa dos bombeiros foi de que a corporação dispõe de apenas uma ambulância neonatal para atender todo o estado do Rio.
Grávida atingida por um tiro chegou lúcida ao hospital, segundo relatório do Hospital Municipal Moacyr do Carmo. Ela ficará pelo menos 15 dias internada Reprodução

O projétil que havia entrado pelo quadril de sua mãe atingiu os pulmões do bebê, ocasionando lesões nas vértebras T3 e T4 de sua medula espinhal e traumatismo craniano. Mesmo após a chegada do veículo, a saída do recém-nascido, que ficou paraplégico, precisou ser adiada para a realização dos exames de tomografia do abdômen, tórax e crânio no próprio Moacyr do Carmo. De acordo com Polliny , o tomógrafo do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes estava quebrado.

Um médico do Hospital Adão Pereira Nunes, que não se identificou, disse que divergências internas quase impediram a transferência do bebê. “Alguns médicos alegaram que não havia vaga nos leitos”. O secretário de saúde de Duque de Caxias, José Carlos de Oliveira, definiu a sobrevivência da mãe e do bebê como ‘um milagre’.Bebê segue internado em estado grave no Hospital Adão Pereira NunesEstefan Radovicz / Agência O Dia

Governo estadual contesta versão de equipe médica

A Secretaria estadual de Saúde contestou a versão apresentada pelos médicos. Em nota, a pasta informou que a tomografia foi feita no Hospital Estadual Pereira Nunes — e não no Moacyr do Carmo, conforme relataram os médicos que atenderam Arthur. A assessoria de imprensa também desmentiu os supostos desentendimentos entre a equipe médica. “Ocorreu apenas uma mobilização dos profissionais de saúde para conseguir o leito específico para a internação da criança, que foi providenciado imediatamente”.

Em nota, o Corpo de Bombeiros também rebateu a versão da médica. A corporação afirmou que não houve demora no atendimento e que o tempo para a chegada da ambulância foi o do trajeto entre a base e o hospital. Mas não informou o tempo do atendimento. Os bombeiros explicaram, ainda, que o estado possui três ambulâncias específicas para o transporte de neonatos, além de uma aeronave.

OUTROS CASOS

18 DE NOVEMBRO DE 2014
Uma gestante foi atingida por um tiro na perna em meio a um confronto entre policiais militares e traficantes no Morro do Amor, no Complexo do Lins. O bebê nasceu prematuro e ficou internado na UTI da Maternidade Carmela Dutra.

16 DE DEZEMBRO DE 2016
Grávida de oito meses, Patrícia Aparecida Pimenta Rosa, de 36 anos, foi morta com um tiro na nuca em meio a uma briga de bar no Recreio dos Bandeirantes. Além dela, outras três pessoas morreram no local. Segundo uma testemunha, houve uma discussão entre o atirador e uma das vítimas. Foi feita cesárea de emergência em uma maternidade. Mas a filha dela não resistiu e morreu no dia seguinte.

1º DE JUNHO DE 2017
Com seis meses de gestação, Michele dos Santos Sales da Silva, de 25 anos, foi atingida por uma bala perdida no tórax quando chegava em casa, em Nova Iguaçu. Grande parte da perda de sangue da vítima foi causada pelo deslocamento da placenta. O bebê morreu dois dias depois, na Maternidade Municipal Mariana Bulhões.


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