DANIELA ABREU 

Desde sua nascente, na Serra da Bocaina, até sua foz em Atafona, praia do litoral de São João da Barra, o rio Paraíba do Sul atravessa os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais cumprindo um percurso de 1.137km, abastecendo mais de quatro milhões de paulistas, 17 municípios do Rio e nove cidades do Grande Rio. Entre barragens, desvios e transposições, o gigante do Sudeste vem perdendo cada vez mais força, tendo como maior vilão, aqueles a quem sustenta. Em 2014, quando o Paraíba atravessou a 13º pior estiagem desde 1960, chegando ao nível assustador de 4,5m, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Emiliano Castro de Oliveira, doutor em sedimentologia, apontou que a ausência de chuvas, à época, estaria colaborando com a redução dos reservatórios na nascente e ampliando a erosão marítima na foz. Segundo o ambientalista Aristides Soffiati, a seca acentuada atingiu o lençol freático também em Campos e São João da Barra, últimas cidades abastecidas pelo rio. O resultado, segundo ele, seria uma percepção de normalidade enquanto o rio corre sobre o leito, no entanto, a baixa na reserva do subsolo ressecou a camada acima, deixando o curso hídrico cada vez mais sensível às estiagens. A salvação, seria a volta dos verões chuvosos, o que não ocorre desde de o início da década. O ressecamento do solo não é realidade somente às margens do Paraíba. Segundo Soffiati, as queimadas que ocorreram no Parque do Desengano também se agravam como reflexo do fenômeno.
— A água que cai no continente vai para o mar rapidamente sem se infiltrar no lençol freático. Os proprietários da Baixada estão cavando poço e encontrando água salgada. Isso porque estamos em uma planície formada em cima da água do mar. A água fica retida no fundo e na medida vai ficando sem água doce, vai chegando na água salgada e puxando. Quando não existe água doce no lençol freático para empurrar a água do mar, ela vai se infiltrando e contaminando tudo — alertou.
Segundo o ambientalista, a água doce está secando em muitos lugares. Tudo isso por conta da derrubada exacerbada de florestas. Combinados, os fatores agravam cada vez mais a situação do Paraíba, que, sem chuvas em abundância, não tem como recuperar sua potência.
— Se você pegar um mapa do Norte e Noroeste Fluminense, você vai ver que não tem quase floresta nenhuma, a não ser na zona serrana e mesmo assim, muito pouco. Então a gente está colhendo agora, os frutos secos, de tudo que a gente semeou no passado e que vem se prolongando por muito tempo — alertou o ambientalista que acrescentou ainda que é preciso medidas estruturais para resolver a situação. “Não adianta ficar tomando medidas emergenciais, decretar estado de emergência e de calamidade pública sem restaurar florestas e lagoas.”
Como pequeno alívio, segundo o doutor em meteorologia e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Valdo Marques, a expectativa é de chuva no próximo mês.
— Estamos na primavera. Em geral a chuva nessa região começa a chegar na primeira quinzena de setembro, mas ela tem chegado com um mês de atraso, na segunda quinzena de outubro. Agora é que a gente está compensando a temporada de chuva na região. A tendência pelo que tem se observado é que vai melhorar, que vamos ter mais chuvas. Já começou a temporada — disse o meteorologista ressaltando que ainda não é possível traçar probabilidades quanto ao verão.
Superexploração traz reflexos nocivos
Segundo o sedimentologista, Emiliano Castro de Oliveira, em artigo publicado em 2014 na sucursal brasileira do jornal francês Le Monde, aliada à fatores naturais como a estiagem, outro fator que vem contribuindo com a morte do Paraíba é a superexploração. Ele cita que o crescimento de regiões que se beneficiam do rio, como o Vale do Paraíba e Baixada Fluminense, que à época da publicação teriam expansão industrial comparadas aos índices chineses, contribuíram para o aumento do consumo das águas do Paraíba, com instalação de indústrias, aeroportos, portos e refinarias que atraíram também o crescimento populacional.
— A partir daí podem-se notar os problemas estruturais relativos ao consumo de água na região, que não foi ampliado adequadamente e continua calcado apenas no aumento da captação da água do rio. O cenário atual, de crise hídrica, demonstra que o limite de captação foi excedido, e no atual panorama não é possível projetar quanto tempo os reservatórios irão durar, uma vez que não havia previsão de consumo em uma situação de seca intensa. O processo erosivo atuante na foz do rio indica que o Paraíba do Sul não tem condições médias de prover água para todos aqueles que hoje se utilizam dele — diz o doutor na publicação.
Incêndios ameaçam o Parque do Desengano
O fenômeno que resulta da estiagem e do desmatamento, consumindo gradativamente a umidade do solo não é uma realidade somente de áreas no entorno do Paraíba. Na região do Parque Estadual do Desengano, localizado em território dos municípios de São Fidélis, Campos e Santa Maria Madalena as queimadas devastaram uma área de 850 hectares da reserva, segundo o diretor do Parque Carlos Dário.
Ele explicou que o grande incêndio que Atingiu Madalena, devastou a área de amortecimento do Parque. Já o que atingiu o lado de Campos não pôde ser localizado, por que chegou através de denúncia, sem precisão do local exato. Helicópteros que faziam o combate às chamas em Nova Friburgo chegaram a se deslocar para a região, porém o incêndio se extinguiu antes de ser localizado.
— Eu costumo dizer que a combustão espontânea está entre o improvável e o impossível. Todos os grandes incêndios que eu combati e que ainda vou combater, infelizmente, sempre começam com a ação do homem. Quando a gente vê os indícios naturais, é sempre uma coisinha pequena que começa numa propriedade e vai embora. O rastro do fogo aponta quase sempre para o dedo do culpado — disse o diretor, que apontou também como causas, o assoreamento dos rios, o desmatamento e a perfuração descontrolada de poços artesianos, aliado a temperaturas elevadas e escassez de chuvas, que não ocorrem há dois meses na região do Parque.
Desde sua nascente, na Serra da Bocaina, até sua foz em Atafona, praia do litoral de São João da Barra, o rio Paraíba do Sul atravessa os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais cumprindo um percurso de 1.137km, abastecendo mais de quatro milhões de paulistas, 17 municípios do Rio e nove cidades do Grande Rio. Entre barragens, desvios e transposições, o gigante do Sudeste vem perdendo cada vez mais força, tendo como maior vilão, aqueles a quem sustenta. Em 2014, quando o Paraíba atravessou a 13º pior estiagem desde 1960, chegando ao nível assustador de 4,5m, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Emiliano Castro de Oliveira, doutor em sedimentologia, apontou que a ausência de chuvas, à época, estaria colaborando com a redução dos reservatórios na nascente e ampliando a erosão marítima na foz. Segundo o ambientalista Aristides Soffiati, a seca acentuada atingiu o lençol freático também em Campos e São João da Barra, últimas cidades abastecidas pelo rio. O resultado, segundo ele, seria uma percepção de normalidade enquanto o rio corre sobre o leito, no entanto, a baixa na reserva do subsolo ressecou a camada acima, deixando o curso hídrico cada vez mais sensível às estiagens. A salvação, seria a volta dos verões chuvosos, o que não ocorre desde de o início da década. O ressecamento do solo não é realidade somente às margens do Paraíba. Segundo Soffiati, as queimadas que ocorreram no Parque do Desengano também se agravam como reflexo do fenômeno.
— A água que cai no continente vai para o mar rapidamente sem se infiltrar no lençol freático. Os proprietários da Baixada estão cavando poço e encontrando água salgada. Isso porque estamos em uma planície formada em cima da água do mar. A água fica retida no fundo e na medida vai ficando sem água doce, vai chegando na água salgada e puxando. Quando não existe água doce no lençol freático para empurrar a água do mar, ela vai se infiltrando e contaminando tudo — alertou.
Segundo o ambientalista, a água doce está secando em muitos lugares. Tudo isso por conta da derrubada exacerbada de florestas. Combinados, os fatores agravam cada vez mais a situação do Paraíba, que, sem chuvas em abundância, não tem como recuperar sua potência.
— Se você pegar um mapa do Norte e Noroeste Fluminense, você vai ver que não tem quase floresta nenhuma, a não ser na zona serrana e mesmo assim, muito pouco. Então a gente está colhendo agora, os frutos secos, de tudo que a gente semeou no passado e que vem se prolongando por muito tempo — alertou o ambientalista que acrescentou ainda que é preciso medidas estruturais para resolver a situação. “Não adianta ficar tomando medidas emergenciais, decretar estado de emergência e de calamidade pública sem restaurar florestas e lagoas.”
Como pequeno alívio, segundo o doutor em meteorologia e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Valdo Marques, a expectativa é de chuva no próximo mês.
— Estamos na primavera. Em geral a chuva nessa região começa a chegar na primeira quinzena de setembro, mas ela tem chegado com um mês de atraso, na segunda quinzena de outubro. Agora é que a gente está compensando a temporada de chuva na região. A tendência pelo que tem se observado é que vai melhorar, que vamos ter mais chuvas. Já começou a temporada — disse o meteorologista ressaltando que ainda não é possível traçar probabilidades quanto ao verão.
Superexploração traz reflexos nocivos
Segundo o sedimentologista, Emiliano Castro de Oliveira, em artigo publicado em 2014 na sucursal brasileira do jornal francês Le Monde, aliada à fatores naturais como a estiagem, outro fator que vem contribuindo com a morte do Paraíba é a superexploração. Ele cita que o crescimento de regiões que se beneficiam do rio, como o Vale do Paraíba e Baixada Fluminense, que à época da publicação teriam expansão industrial comparadas aos índices chineses, contribuíram para o aumento do consumo das águas do Paraíba, com instalação de indústrias, aeroportos, portos e refinarias que atraíram também o crescimento populacional.
— A partir daí podem-se notar os problemas estruturais relativos ao consumo de água na região, que não foi ampliado adequadamente e continua calcado apenas no aumento da captação da água do rio. O cenário atual, de crise hídrica, demonstra que o limite de captação foi excedido, e no atual panorama não é possível projetar quanto tempo os reservatórios irão durar, uma vez que não havia previsão de consumo em uma situação de seca intensa. O processo erosivo atuante na foz do rio indica que o Paraíba do Sul não tem condições médias de prover água para todos aqueles que hoje se utilizam dele — diz o doutor na publicação.
Incêndios ameaçam o Parque do Desengano
O fenômeno que resulta da estiagem e do desmatamento, consumindo gradativamente a umidade do solo não é uma realidade somente de áreas no entorno do Paraíba. Na região do Parque Estadual do Desengano, localizado em território dos municípios de São Fidélis, Campos e Santa Maria Madalena as queimadas devastaram uma área de 850 hectares da reserva, segundo o diretor do Parque Carlos Dário.
Ele explicou que o grande incêndio que Atingiu Madalena, devastou a área de amortecimento do Parque. Já o que atingiu o lado de Campos não pôde ser localizado, por que chegou através de denúncia, sem precisão do local exato. Helicópteros que faziam o combate às chamas em Nova Friburgo chegaram a se deslocar para a região, porém o incêndio se extinguiu antes de ser localizado.
— Eu costumo dizer que a combustão espontânea está entre o improvável e o impossível. Todos os grandes incêndios que eu combati e que ainda vou combater, infelizmente, sempre começam com a ação do homem. Quando a gente vê os indícios naturais, é sempre uma coisinha pequena que começa numa propriedade e vai embora. O rastro do fogo aponta quase sempre para o dedo do culpado — disse o diretor, que apontou também como causas, o assoreamento dos rios, o desmatamento e a perfuração descontrolada de poços artesianos, aliado a temperaturas elevadas e escassez de chuvas, que não ocorrem há dois meses na região do Parque.
Fmanha
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