Legado do extinto DNOS no município inclui 38 diques e 1.293 quilômetros de canais artificiais de escoamento e irrigação
POR THIAGO GOMES
POR THIAGO GOMES
Duas das maiores obras de engenharia civil já realizadas em Campos dos Goytacazes são antigas e, juntas, formam um mecanismo que contém o Rio Paraíba do Sul, em sua fúria, durante épocas de cheia. Uma delas é o dique que margeia o rio, cujos registros históricos mostram que a construção estava em andamento já no início da segunda década do século XX. No entanto, sua conclusão só aconteceu na década de 1960, por intermédio do então deputado Alair Ferreira. A outra é a malha de canais com nada menos que 1.293 quilômetros de extensão que segue em direção à Baixada Campista. Tanto uma quanto a outra têm como principal função evitar calamidades como as causadas pelas enchentes de 1966 e 2007.
Só de diques, o extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) construiu 38 no município, que juntos somam 126 km. Os dados estão em uma pasta antiga que o último engenheiro residente do DNOS em Campos, Carlos Faria, conseguiu salvar após a desativação do órgão. O departamento, que, na época, era uma autarquia do Ministério do Interior, foi extinto pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello em agosto de 1990.
Faria explica que a bateria de diques de contenção do Paraíba do Sul, construída nas duas margens do rio, foi feita em várias etapas. Parte edificada em terra, parte em pedra, mas, na área central, demandou uma obra de maior complexidade, com concreto armado. De acordo com registros do DNOS, o trecho que vai da Praça das Quatro Jornadas até a Ponte da Lapa possui 858 metros. Os trabalhos foram iniciados em 15 de junho de 1950 e a inauguração ocorreu em 31 de outubro de 1958.
“A última parte do dique a ser construída foi a do lado esquerdo. Após a grande enchente de 1966, o então deputado Alair Ferreira conseguiu recursos junto ao Ministério do Interior e a obra começou a sair do papel, tocada pelo DNOS”, lembrou o ex-engenheiro do departamento, hoje lotado no Ministério da Agricultura.
Seja pela correria habitual de uma cidade com mais de 500 mil habitantes ou por estar completamente integrado à paisagem urbana, não é todo campista que repara, mas o dique está lá para conter o Paraíba do Sul. Segundo o Superintendente da Defesa Civil Municipal, major Edison Pessanha, sem a obra, tanto o Centro quanto Guarus já teriam sido inundados incontáveis vezes.
“O dique é de extrema importância para a nossa cidade, pois, sem ele, teríamos sofrido incontáveis enchentes ao longo desses anos, com prejuízos incalculáveis”, frisou.
(Foto: Arquivo DNOS)
Proteção
Major Edison Pessanha lembra que a última inundação da área central de Campos ocorreu em 2007, quando nem a Ponte General Dutra resistiu à força do rio. Ela cedeu em 6 de janeiro daquele ano. Só para se ter uma pequena noção da “tarefa” do dique, a cota normal do rio na cidade é de aproximadamente seis metros, mas, segundo o superintendente da Defesa Civil Municipal, ele contém o Paraíba até a cota de 12 metros.
“Na enchente de 2007 faltou apenas 36 centímetros para bater a cota do dique. Não dá nem para imaginar o que teria acontecido com a cidade se não fosse ele”.
Pessanha ressaltou que, na época, o dique fez seu papel, apesar de a água ter tomado a Avenida XV de Novembro. “A inundação ocorreu porque a água começou a voltar pelos bueiros”, comentou.
Quando o rio está acima de 10,40 metros, outras partes da cidade, como Ilha do Cunha e Coroa já começam a alagar. Mas o Centro segue seco por causa do dique.
Só de diques, o extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) construiu 38 no município, que juntos somam 126 km. Os dados estão em uma pasta antiga que o último engenheiro residente do DNOS em Campos, Carlos Faria, conseguiu salvar após a desativação do órgão. O departamento, que, na época, era uma autarquia do Ministério do Interior, foi extinto pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello em agosto de 1990.
Faria explica que a bateria de diques de contenção do Paraíba do Sul, construída nas duas margens do rio, foi feita em várias etapas. Parte edificada em terra, parte em pedra, mas, na área central, demandou uma obra de maior complexidade, com concreto armado. De acordo com registros do DNOS, o trecho que vai da Praça das Quatro Jornadas até a Ponte da Lapa possui 858 metros. Os trabalhos foram iniciados em 15 de junho de 1950 e a inauguração ocorreu em 31 de outubro de 1958.
“A última parte do dique a ser construída foi a do lado esquerdo. Após a grande enchente de 1966, o então deputado Alair Ferreira conseguiu recursos junto ao Ministério do Interior e a obra começou a sair do papel, tocada pelo DNOS”, lembrou o ex-engenheiro do departamento, hoje lotado no Ministério da Agricultura.
Seja pela correria habitual de uma cidade com mais de 500 mil habitantes ou por estar completamente integrado à paisagem urbana, não é todo campista que repara, mas o dique está lá para conter o Paraíba do Sul. Segundo o Superintendente da Defesa Civil Municipal, major Edison Pessanha, sem a obra, tanto o Centro quanto Guarus já teriam sido inundados incontáveis vezes.
“O dique é de extrema importância para a nossa cidade, pois, sem ele, teríamos sofrido incontáveis enchentes ao longo desses anos, com prejuízos incalculáveis”, frisou.
(Foto: Arquivo DNOS)
Proteção
Major Edison Pessanha lembra que a última inundação da área central de Campos ocorreu em 2007, quando nem a Ponte General Dutra resistiu à força do rio. Ela cedeu em 6 de janeiro daquele ano. Só para se ter uma pequena noção da “tarefa” do dique, a cota normal do rio na cidade é de aproximadamente seis metros, mas, segundo o superintendente da Defesa Civil Municipal, ele contém o Paraíba até a cota de 12 metros.
“Na enchente de 2007 faltou apenas 36 centímetros para bater a cota do dique. Não dá nem para imaginar o que teria acontecido com a cidade se não fosse ele”.
Pessanha ressaltou que, na época, o dique fez seu papel, apesar de a água ter tomado a Avenida XV de Novembro. “A inundação ocorreu porque a água começou a voltar pelos bueiros”, comentou.
Quando o rio está acima de 10,40 metros, outras partes da cidade, como Ilha do Cunha e Coroa já começam a alagar. Mas o Centro segue seco por causa do dique.
Canais
Em 1935 foi iniciado pelo DNOS o levantamento para a construção da maioria dos canais artificiais que ajudam a escoar a água do Rio Paraíba do Sul. Os detalhes também estão nos antigos documentos recuperados pelo ex-engenheiro do órgão, Carlos Faria. A rede é composta por 389 canais que, juntos, somam 1.293 quilômetros.
“Ouço muita gente por aí falando em 1.500 quilômetros de canais, mas, na verdade, são 1.293 quilômetros. Eles fazem parte de um grande projeto de saneamento básico desenvolvido pelo Governo Federal, cuja finalidade era pôr fim a alagamentos e, com isso, acabar com a alta incidência de doenças endêmicas. Essa era a forma técnica mais usada na época para se combater doenças endêmicas. Posteriormente, como nossa região era extremamente agricultável, esses canais, além de escoamento, passaram a ter a função de irrigação”, esclareceu Carlos Faria.
O engenheiro explica que os canais principais construídos pelo DNOS são Iteteré, Cacomanga, Coqueiro, Cambaína, São Bento e Quitinguta, à margem direita do rio, que vão em direção à Baixada Campista; e Vigário, do lado esquerdo. Estes nascem no Paraíba e dão origem a quase quatro centenas de outros canais secundários e terciários.
“O Canal das Flechas, com seus 14.680 metros, foi construído na época como o maior canal artificial do Brasil”, destacou Faria.
(Foto: Arquivo DNOS)
Problemas
Ocupação desordenada, despejo de esgoto, assoreamento e falta de manutenção são alguns dos problemas enfrentados pelos canais de Campos, que dificultam o escoamento da água do Paraíba, de acordo com o historiador ambiental, Aristides Soffiati.
O pesquisador lembra que, pelo fato de Campos ser uma grande planície, ou seja, com baixa declividade, a água escoa com maior dificuldade. Por isso, segundo ele, é importante que os canais de drenagem estejam desobstruídos.
“Houve um crescimento desordenado no entorno dos canais e, com ele, o aumento do despejo de esgoto. Como os dejetos são ricos em matéria orgânica, isso propicia o crescimento de vegetação ao longo dos canais, o que dificulta o escoamento da água. Sem falar no assoreamento desses canais”, analisou Soffiati.
A equipe de reportagem fez contato com a assessoria do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), órgão responsável pela manutenção dos canais, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.
Em 1935 foi iniciado pelo DNOS o levantamento para a construção da maioria dos canais artificiais que ajudam a escoar a água do Rio Paraíba do Sul. Os detalhes também estão nos antigos documentos recuperados pelo ex-engenheiro do órgão, Carlos Faria. A rede é composta por 389 canais que, juntos, somam 1.293 quilômetros.
“Ouço muita gente por aí falando em 1.500 quilômetros de canais, mas, na verdade, são 1.293 quilômetros. Eles fazem parte de um grande projeto de saneamento básico desenvolvido pelo Governo Federal, cuja finalidade era pôr fim a alagamentos e, com isso, acabar com a alta incidência de doenças endêmicas. Essa era a forma técnica mais usada na época para se combater doenças endêmicas. Posteriormente, como nossa região era extremamente agricultável, esses canais, além de escoamento, passaram a ter a função de irrigação”, esclareceu Carlos Faria.
O engenheiro explica que os canais principais construídos pelo DNOS são Iteteré, Cacomanga, Coqueiro, Cambaína, São Bento e Quitinguta, à margem direita do rio, que vão em direção à Baixada Campista; e Vigário, do lado esquerdo. Estes nascem no Paraíba e dão origem a quase quatro centenas de outros canais secundários e terciários.
“O Canal das Flechas, com seus 14.680 metros, foi construído na época como o maior canal artificial do Brasil”, destacou Faria.
(Foto: Arquivo DNOS)
Problemas
Ocupação desordenada, despejo de esgoto, assoreamento e falta de manutenção são alguns dos problemas enfrentados pelos canais de Campos, que dificultam o escoamento da água do Paraíba, de acordo com o historiador ambiental, Aristides Soffiati.
O pesquisador lembra que, pelo fato de Campos ser uma grande planície, ou seja, com baixa declividade, a água escoa com maior dificuldade. Por isso, segundo ele, é importante que os canais de drenagem estejam desobstruídos.
“Houve um crescimento desordenado no entorno dos canais e, com ele, o aumento do despejo de esgoto. Como os dejetos são ricos em matéria orgânica, isso propicia o crescimento de vegetação ao longo dos canais, o que dificulta o escoamento da água. Sem falar no assoreamento desses canais”, analisou Soffiati.
A equipe de reportagem fez contato com a assessoria do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), órgão responsável pela manutenção dos canais, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.
Enchentes
A enchente de janeiro de 1966 foi um marco na cidade porque, na época, o dique da área central ainda não havia sido concluído. A água do Rio Paraíba do Sul invadiu pontos em que, hoje, fica difícil de imaginar, como a Avenida Alberto Torres, nas proximidades do Palácio Nilo Peçanha, onde funcionava o fórum da cidade e atualmente abriga a Câmara de Vereadores. A água também chegou a postos como a Avenida Tenente Coronel Cardoso (antiga Formosa) e Rua Marechal Floriano (antiga Rua do Ouvidor). A cidade também registrou outros grandes alagamentos anteriores, como em 1943.
A enchente de janeiro de 1966 foi um marco na cidade porque, na época, o dique da área central ainda não havia sido concluído. A água do Rio Paraíba do Sul invadiu pontos em que, hoje, fica difícil de imaginar, como a Avenida Alberto Torres, nas proximidades do Palácio Nilo Peçanha, onde funcionava o fórum da cidade e atualmente abriga a Câmara de Vereadores. A água também chegou a postos como a Avenida Tenente Coronel Cardoso (antiga Formosa) e Rua Marechal Floriano (antiga Rua do Ouvidor). A cidade também registrou outros grandes alagamentos anteriores, como em 1943.
Fonte:Terceira Via
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