domingo, 28 de fevereiro de 2021

Pandemia faz um ano deixando marcas e vítimas da Covid-19

Em Campos são mais de 720 mortes e 21 mil casos confirmados da doença que alterou o modo de vida de todos


Sepultamento do Deputado Estadual Gil Viana (Foto: Bernardo Rust)

Ocinei Trindade, Marcos Curvello e Mariane Pessanha

Campos dos Goytacazes reflete o que acontece no Brasil e no mundo quando o assunto é Covid-19: apreensão. No último dia 26, foi lembrado o primeiro caso registrado no País. Quase um mês depois, em 23 de março de 2020, Campos teve o primeiro caso notificado da doença transmitida pelo Novo Coronavírus. Enquanto este texto era escrito, a pandemia tinha afetado mais de 10 milhões e 390 mil brasileiros. O número de mortos era de 252 mil. A esperança de ser vacinado esbarra na falta do imunizante que, apesar de produzido em tempo recorde por vários laboratórios, ainda não se sabe quando será aplicado em toda a população.


Nestes últimos 12 meses, lidar com crises econômica e sanitária não tem sido fácil. Só em Campos, os casos de Covid-19 passavam de 21 mil, com 738 mortes, ocupação de 40% de leitos de UTI e quase 15 mil pessoas vacinadas até dia 26. Em um ano enfrentando a pandemia de Covid-19, os profissionais da saúde, pesquisadores e toda a sociedade seguem desafiados no enfrentamento da doença.

Apesar de recomendações e protocolos, muitos relaxaram quanto à proteção individual e coletiva. Cenas de aglomerações continuam frequentes. Com isto, novos casos da doença vêm ocorrendo, preocupando os sistemas de saúde público e privado. Após o período de réveillon e carnaval, mais pessoas pararam nos hospitais.

Nélio Artiles é médico infectologista (Foto: Silvana Rust)

Para o infectologista Nélio Artiles, após um ano de pandemia as pessoas se cansaram e, por isso, muitas não seguem as determinações, como no início, quando ainda ficavam dentro de casa e saíam apenas quando necessário. A pandemia refletiu o comportamento de uma parte da população que tenta distrair a atenção da pandemia e acalentar falsas esperanças, como a promessa de curas milagrosas com o uso de medicamentos que não funcionam e não têm comprovação científica.
O médico adverte sobre pessoas que reduziram o uso de máscaras por terem tomado o vermífugo Ivermectina, por exemplo, e, que acabaram perdendo a vida. Nesses 12 meses, ele cita as vacinas e sua evolução rápida como dado positivo. Enquanto a vacina não chegar a todos, o infectologista recomenda medidas de proteção contra o coronavírus.
“Como nem todos poderão ser imunizados agora, certamente, teremos um ano igual ao que passou, então, os cuidados precisam permanecer. Nada de máscara no queixo, no pescoço e, sim, tapando boca e nariz. Distanciamento e higienização das mãos, principalmente para quem tem riscos ainda maiores de contágio. Espero que todo esse transtorno e sofrimento que estamos passando sirvam, para o crescimento pessoal e coletivo porque essa doença nos fez ter a obrigação de orar pelo outro, mais que a si mesmo. Precisamos cuidar da saúde pessoal e coletiva também”, finaliza.




Pós-Covid
Médicos e pesquisadores investigam nesse último ano, as diferentes reações em quem contraiu a Covid-19. 

Muitas pessoas desenvolveram doenças após infectadas pelo Novo Coronavírus. O fotógrafo Gerson Cerqueira teve Covid-19. Teve muita dor de cabeça, febre, taquicardia, falta de ar, perdas do paladar e olfato, visão ruim por mais de dois meses. Livrou-se do vírus, mas não das sequelas da doença. “Depois de cinco meses, tive mais taquicardia fraqueza, tonteira, dor de cabeça. Estou com pressão alta. Não tive nada no pulmão. Sigo na luta”. Além de Gerson, outras pessoas da sua família adoeceram. Eles pegaram o vírus em diferentes lugares. A doença é bem complexa e a reação é diferente em cada um”, diz.

Martha Henriques, diretora administrativa do grupo IMNE (Foto: JTV)


Lições e aprendizado
A diretora administrativa do Grupo IMNE, Martha Henriques, considera que a pandemia provocou mudanças e adaptações. Nas unidades do Hospital Geral Dr. Beda, por exemplo, foram criados novos planejamentos e novas formas de trabalho. Todos os profissionais, dos responsáveis pela limpeza aos médicos, se uniram para o bem comum: salvar vidas. Novos processos de acreditação, normatização e protocolos de segurança passaram a vigorar. Foi preciso lidar com a falta de insumos reajustados em 300%, e criar alternativas.
“Após o carnaval, percebemos o aumento de procura pelo serviço hospitalar. Estamos ampliando o atendimento em alas separadas de UTI, setores de urgência e emergência. Em casos de cirurgia, é exigido que o paciente faça o exame de PCR, 24 horas antes do procedimento. É uma forma de proteger a equipe da contaminação. As pessoas deveriam atentar que precisou uma pandemia acontecer para a gente entender que a vida é importante. Para cuidar bem de você, tem que cuidar do outro”, conclui.


Linha do tempo – 2020/21


Fevereiro/20

O primeiro caso suspeito de contaminação pelo novo coronavírus em Campos é reportado pela Prefeitura no dia 28, após uma mulher de 24 anos buscar atendimento no Hospital Ferreira Machado (HFM) depois de retornar de uma viagem à Itália e apresentar tosse, febre, desconforto respiratório e coriza. Clinicamente estável, a paciente é colocada em isolamento e passa a ser acompanhada pela equipe de infectologia da unidade de saúde.


Março/20
Exame descarta Covid-19 para paciente que retornou da Itália. O prefeito Rafael Diniz cria Gabinete de Crise. Prefeitura reduz horário de funcionamento dos supermercados, fecha bancos e casas lotéricas e suspende aulas em toda a rede de ensino. Prefeitura determina o fechamento do comércio. Dois dias depois, é anunciada a instalação do Centro de Combate ao Coronavírus no Hospital da Beneficência Portuguesa.
No dia 23, é confirmado o primeiro caso de infecção pelo novo Coronavírus em Campos. Sem sintomas graves, o paciente, que havia estado em uma convenção em São Paulo, é colocado em isolamento.


Campos tem primeira morte por coronavírus; homem tinha 39 anos

Abril/20
Chegam a Campos, no dia 10, equipamentos para a montagem do hospital de campanha. No dia 11, morre o caminhoneiro Hudson Pinto dos Santos, de 39 anos, primeira vítima fatal da Covid-19 em Campos. Nove dias depois, a Prefeitura decreta estado de calamidade pública.
Entra em vigor, no dia 28, decreto que torna obrigatório o uso de máscara em locais públicos. Governo do estado adia para maio a abertura do hospital de campanha. Município contabiliza 85 casos e 4 mortes por Covid-19 confirmados no mês.

Deputado Gil Vianna morre de Covid-19 em Campos

Maio/20
Número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus começa a crescer. Ocupação dos leitos de CTI do Centro de Combate ao Coronavírus chega a 80%. No dia 18, Prefeitura impõe lockdown e decreta toque de recolher entre 23h e 5h. O deputado estadual Gil Vianna morre no dia 19, aos 54 anos, vítima da Covid-19. No mesmo dia, Justiça ordena inauguração de hospital de campanha em Campos, mas a inauguração é novamente adiada, agora para 12 de junho. No dia 30, Rafael Diniz apresenta plano de retomada.


Junho/20
Ocupação dos leitos de CTI do Centro de Combate ao Coronavírus chega a 93%. Câmara inaugura Plenário Virtual e passa a se reunir de forma extraordinária. No dia 2, Município progride à Fase Laranja, que indica situação grave, e passa a ter lockdown parcial. Governo do Estado rompe contrato de montagem do hospital de campanha e data de abertura da unidade fica indefinida. Campos confirma casos de Covid-19 em 124 bairros. Município ultrapassa, no dia 25, a marca dos 100 mortos por Covid-19. Rafael Diniz testa positivo para a doença. Mês termina com 1.828 casos confirmados e 109 mortes.

Médico foi vítima da Covid-19 e não resistiu

Julho/20
Governo do Estado anuncia, no dia 1º, que desistiu de concluir hospital de campanha. Morrem, vítimas de Covid-19, o médico neurocirurgião Makhoul Moussallem, o radialista Roberto Cardoso e o empresário Marcos Antônio Abud, de 67 anos. O comércio de rua de Campos é reaberto após mais de 100 dias fechado. Shoppings de Campos retornam depois de quatro meses. No dia 27, Governo do Estado consegue liminar que suspende determinação de conclusão de hospital de campanha em Campos. Município registra 2.974 casos e 201 mortes confirmados.


Agosto/20
O uso de máscara na luta contra a Covid-19 em Campos passa a ser previsto em lei (9015/20). Morre o ex-coordenador de Desenvolvimento e Infraestrutura de Campos, Antônio José Petrucci, por complicações da Covid-19. Estrutura do hospital de campanha começa a ser desmontada no dia 19. Nove dias mais tarde, o Governador Wilson Witzel é afastado do cargo por irregularidades e desvios na Saúde. O vice-governador, Cláudio Castro assume. Município registra 4.612 casos e 301 mortes em função do novo coronavírus.

João Peixoto era deputado estadual e morreu de Covid-19

Setembro/20
Morre, aos 75 anos, o deputado estadual João Peixoto, vítima de Covid-19. Cidade entra na Fase Verde e estende até meia-noite o horário de funcionamento de bares e restaurantes. Acesso de menores de seis anos e maiores de 60 é liberado nos shoppings. Município registra 6.006 casos confirmados de Covid-19 e 376 mortes.


Outubro/20
No dia 1º, a Secretaria de Estado de Saúde alerta para segunda onda de contaminação pelo coronavírus. No dia 22, morre o senador Arolde de Oliveira (RJ). Campos atinge a marca de 8 mil casos de Covid-19. Somam 426 óbitos e 8.648 infectados.


Novembro/20
Fase Amarela com momento crítico, medidas para reduzir circulação de pessoas. Saúde privada registra aumento de casos de Covid-19. Em teste, vacina Coronavac induz resposta rápida de imunização e Pfizer tem eficácia de 90%. A secretária municipal de Saúde, Cintia Ferrini, testa positivo para Covid. O mês encerrou com balanço de 11.0643 casos e 469 mortos.

Hospital de campanha


Dezembro/20
São João da Barra aumenta número de casos. Prefeitura de Campos decreta toque de recolher e medidas restritivas. Segunda onda de Covid assusta e causa desgaste no meio médico. Instituto Butantan inicia produção de Coronavac. Último ciclo do auxílio emergencial é pago. Estado do Rio passa de 25 mil mortes. Campos ultrapassa 13 mil infectados. Prefeito eleito de Conceição de Macabu, José de Castro (PSD), morre de Covid. O mês termina com 13.776 casos confirmados e 529 mortes.


Janeiro/21
Novo prefeito Wladimir Garotinho cria Gabinete de Crise. Campos passa de 14 mil infectados. População reclama da falta de testes. País passa de 200 mil mortes. No dia 17, em São Paulo, a enfermeira Mônica Calazans é a primeira brasileira a ser vacinada. Campos recebe 11 mil doses de vacina. No dia 19, o enfermeiro André Oliveira é a primeira pessoa vacinada em Campos. No dia 20, profissionais de saúde começam a ser imunizados. O mês encerra com 18.660 casos e 666 mortos desde o início da pandemia.
Fonte Terceira Via

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