domingo, 19 de setembro de 2021

Criptomoedas: investimento de alto risco

Especialistas aconselham cautela e falam sobre os riscos de injetar dinheiro sob promessa de lucros impraticáveis

POR GIRLANE RODRIGUES
Criptomoedas (Foto: Ilustrativa)

A prisão do empresário e investidor Gladson Acacio dos Santos, da empresa GAS, lançou dúvidas e preocupação sobre o boom do mercado de investimentos que não para de crescer no mundo nos últimos anos. A comercialização de criptomoedas — entre elas o Bitcoin — virou febre, principalmente sob a promessa de ganhos exorbitantes. No entanto, o que parecia ser algo seguro e promissor despencou quando a Polícia Federal fechou a empresa, sob a acusação de promover pirâmide financeira, um esquema que movimenta bilhões de reais e enriquecia alguns. Especialistas em investimentos em Campos não recomendam este tipo de transação por não ser regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Gladson Acácio dos Santos

Apesar de a prática de troca de moedas virtuais não ser ilegal, ela não é regulamentada no Brasil e torna-se um investimento de risco agressivo, diferente de aplicações mais seguras em rendas fixa ou variável, que levam em conta a oscilação da taxa de juros e as condições de mercado nacionais e internacionais. A equipe de reportagem do Jornal Terceira Via conversou com Antônio Carlos Chebabe Neto, gestor de uma empresa de consultoria financeira em Campos.

Segundo Chebabe, que também é engenheiro de produção, criptomoedas são moedas negociáveis no mundo inteiro, em ambiente diferente do convencional. “É como se o investidor estivesse indexando seu capital em alguma moeda, como Dólar, Euro, Bitcoin, Litio, Hemetério, entre outras. Porém, este tipo de transação com criptomoedas não é regulamentada pela CVM, uma autarquia do Governo Federal que fiscaliza e normatiza o mercado financeiro com intuito de proteger o investidor pessoa física no Brasil. Esta falta de regulamentação faz com que a compra e venda aconteça com corretoras fora do Brasil”, explica.
Antonio Carlos Chebabe Neto (Foto: Carlos Grevi)

A procura por investimento em criptomoedas está cada vez maior, devido à valorização delas. Mas isso também significa risco ao consumidor. “Este tipo de investimento é de alta volatilidade e parece ser de ganho fácil, o que atrai um perfil agressivo para investir. Este tipo de investimento não gera dividendos e rendas baseadas nos juros, mas na compra e venda do mercado. Aqui no nosso escritório, por exemplo, não trabalhamos com este tipo de investimento”, pontua.

Grupo de campistas afirma receber lucros de 10%

Em Campos, estima-se que um grupo de aproximadamente mil pessoas investiu na G.A.S. O Jornal Terceira Via conversou com um autônomo de 35 anos que aplicou cerca de R$ 20 mil na empresa que comercializaria criptomoedas e diz que está recebendo o lucro de 10% ao mês. “Conheço pessoas que venderam propriedades para investir e outras que fizeram aporte de toda uma herança milionária recebida da família. No início da operação da Polícia Federal bateu uma certa insegurança e medo de perder o dinheiro que apliquei, mas, depois, passei a me sentir coberto porque a empresa está dialogando conosco e garantindo que a legalidade do negócio será provada na Justiça. O que sei é que todos nós estamos recebendo o prometido”, disse o autônomo, que preferiu não se identificar.

A equipe de reportagem do Jornal Terceira Via tentou visitar o escritório da G.A.S., em Campos, que funciona em um prédio comercial nas proximidades da avenida Pelinca, mas foi informada por funcionários da recepção do prédio que a sala comercial não tem tido movimentação de funcionários há algumas semanas. O cliente do escritório ouvido na reportagem disse que o atendimento é feito por hora marcada e sob um rigoroso processo de filtragem do público que busca investir.

No dia 29 de agosto, um grupo de aproximadamente 60 campistas fez uma carreata no Centro de Campos pedindo a liberdade do empresário Gladson Acacio dos Santos. O mesmo aconteceu dias antes em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos, onde a sede da empresa foi fechada pela Polícia Federal.

Orientação, alerta e segurança

Chebabe destaca que a busca pelo investimento ideal deve ser personalizada para cada tipo de cliente, levando em conta o perfil dele, como propensão a risco, necessidade de curto, médio ou longo prazos. “Ultimamente vemos movimento de empresas que estão negociando, aparentemente, criptomoedas, mas garantem um lucro mensal que é muito além do que o mercado pratica, o que é caracterizado de pirâmide financeira, onde o que se pratica são atitudes e contratos que não são investimentos financeiros, mas instrumentos considerados fraudes”, pontua.

Quem investe deseja, além de retorno financeiro, segurança, apesar daqueles que assumem riscos e fazem apostas mais ousadas no mercado. Chebabe acrescenta que há opção para todos os públicos. Ele fez uma análise do perfil do brasileiro e concluiu que há uma grande migração para certos tipos de investimentos: “No Brasil ainda temos um trilhão de reais em poupança, um perfil mais tradicional de investimento que, apesar de seguro, oferece juros baixos. Ultimamente, vemos uma migração para aplicações em renda fixa, como CDB, LCA, LCI de bancos médios e pequenos, regulados pela CVM e com segurança e rentabilidade melhores que a poupança. Há também investimentos no Tesouro Nacional, que também é bem seguro e gera uma rentabilidade maior que a poupança”, diz.

O gestor identifica também uma procura grande por investimentos mais agressivos, como ações, fundos multimercados, e até as criptomoedas. “Mas os investimentos em criptomoedas não parecem ser convencionais porque o lucro oferecido é muito fora do padrão. A taxa Selic, por exemplo, que é referência no Brasil, rende 5,25% ao ano, valor bem diferente do lucro mensal de 10% ao mês, o que daria 120% ao ano, como a gente ouviu falar na oferta das empresas que atuam com criptomoedas”.

Regulamentação

A regulamentação das transações com criptomoedas depende de decisão do Banco Central, da CVM e de órgãos federais. “O Banco Central teria que aceitar e reconhecer estas moedas como moedas de negociação. Alguns países adotaram o Bitcoin, por exemplo, mas o processo não é simples porque a transação com este tipo de moeda depende de novas tecnologias, o que não é fácil para operar em larga escala”, concluiu Chebabe.
Outro entrave para a regulamentação é que a instituição que normatizaria este tipo de investimento deveria fazer programas e movimentos de educação financeira. “Isso é para que o investidor saiba exatamente o que está fazendo, onde está alocando, qual o risco, para que ele não pense apenas no retorno fácil e passe a entender os riscos que está correndo”, explicou.

Chebabe acredita que a regulamentação das criptomoedas no Brasil seja um passo importante em ambiente fiscalizado por órgãos competentes e controlado para negociação com objetivo de manter a proteção do investidor.

Por enquanto, ele defende outros tipos de investimentos e garante aos seus clientes assistência e dedicação para oferecer as melhores opções de mercado, sempre de acordo com o perfil individual. “Em um futuro próximo, vejo a popularização de investimentos. Há cinco anos, havia 500 mil investidores no Brasil em bolsas. Hoje este número está quatro vezes maior e é devido à queda de juros, que resulta em alternativas mais rentáveis.”

Ao ser perguntado sobre o lado negativo do investimento regulamentado no Brasil, Chebabe foi enfático: “A única negatividade é o investidor não saber o que está fazendo, não conhecer os riscos e deixar de procurar orientação adequada. Sugiro sempre uma assessoria profissional e regulada”, finaliza.
Advogado Robson Barreto

Casos na Justiça
O advogado especialista em Direito Bancário, Robson Barreto, chegou a ser procurado pela GAS para representar a empresa em Campos há cerca de 10 anos. Na época, ele desconfiou das facilidades oferecidas e se recusou. Hoje, após o escândalo da pirâmide financeira, ele é procurado por clientes da GAS que buscam orientação jurídica para resolver o problema.

“Há muito tempo estava observando este mercado e orientando as pessoas a deixaram este tipo de investimento por se assemelhar a uma pirâmide. Conheço pessoas que investiram quase um milhão de reais. Minha recomendação é que, sim, recorram à Justiça. Em 24 horas, o Fórum de Cabo Frio recebeu 20 novos processos deste caso. Nas ações, são solicitadas penhora de recursos”, disse.

Barreto estima que em Campos pelo menos mil pessoas investiram dinheiro na GAS ao longo de quase 10 anos. “Existe negociação legítima com criptomoedas, mas todos os riscos são considerados. Diferente deste caso da GAS, em que se oferecia 10% de juros ao mês, independente de qualquer instabilidade do mercado”, esclareceu.

O que são criptomoedas?
Uma criptomoeda ou cibermoeda é um meio de troca, podendo ser centralizado ou descentralizado, que utiliza criptografias para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da moeda. O Bitcoin, a primeira criptomoeda descentralizada, foi criado em 2009 por um usuário que se identifica como Satoshi Nakamoto.

Ao contrário de sistemas bancários centralizados, grande parte das criptomoedas usa um sistema de controle descentralizado com base na tecnologia de blockchain, que é um tipo de livro-registro. O sistema não requer uma autoridade central. A segurança, integridade e balanço dos registros de um sistema de criptomoeda são mantidos por uma comunidade de mineradores, que são pessoas da sociedade que utilizam seus computadores para ajudar a validar e temporizar transações.

A segurança dos registros de uma criptomoeda baseia-se na suposição de que a maioria dos mineradores mantém o arquivo de modo honesto, sob um incentivo financeiro.
Protesto em Campos | Clientes da G.A.S. Consultoria fizeram carreata para manifestar apoio a Glaidson Acácio dos Santos

Operação Kryptos

O empresário Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, dono da GAS Consultoria Bitcoin, foi preso no dia 25 de agosto de 2021 durante a Operação Kryptos, realizada pela Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal. Glaidson estava em uma mansão em um condomínio de luxo às margens da Lagoa de Jacarepaguá, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A Justiça autorizou a prisão preventiva de Glaidson e outros seis envolvidos no suposto esquema. Também foram expedidos mandados de prisão temporária para duas pessoas suspeitas de participarem da pirâmide.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o grupo prometia lucros incompatíveis com o mercado financeiro por meio do investimento em bitcoins, as moedas virtuais. Semana passada, uma decisão judicial determinou o bloqueio de R$ 38 bilhões da empresa.

Nota da G.A.S.
A G.A.S. CONSULTORIA ressalta que possui o total domínio operacional para atuar no mercado, o know-how de quase uma década é comprovado na honra da empresa perante os pagamentos pontuais de seus investidores. É de grande valia mencionar que a empresa se compromete desde sempre a continuar realizando todos os pagamentos em dia sem uma violação das cláusulas estabelecidas em contrato.
Fonte: Terceira Via

Nenhum comentário: