Revendedores vêm sofrendo impactos, tendo que se desdobrarem para manter o negócio
Com botijão mais caro, consumidores pensam em estratégias para economizar. (Foto: Arquivo)
Após consecutivos aumentos, o botijão de gás já chega a custar 10% do salário mínimo no Estado do Rio, o que faz com que muitas famílias o utilizem apenas em situações específicas, como em dias de chuva ou para preparos rápidos, como um café. Nos outros momentos, a lenha é a solução mais barata para cozinhar. Quem ainda tem condições de apertar o orçamento para não deixar faltar o item reclama de pagar até R$ 111 pelo GLP. E mesmo os revendedores já vêm sofrendo impactos, tendo que se desdobrarem para manter o negócio.
A dona de casa Andrea Rodrigues, de 52 anos, que mora em Nilópolis e tinha hábito de fazer “comida fresca” todos os dias, decidiu trocar o jantar por lanches feitos de pão integral, salada, atum ou queijo, a fim de economizar.
“Antes, eu cozinhava duas vezes por dia. Agora, só faço comida no almoço mesmo”, conta.
Desde janeiro, o preço médio do botijão de gás para o consumidor subiu quase 30%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o que equivale a cinco vezes a inflação acumulada no período. Na última semana, valor máximo registrado pela ANP na cidade do Rio de Janeiro foi de R$ 102. No entanto, um levantamento do EXTRA encontrou o produto por até R$ 111,90.
Queda de 50% nas vendas
Os revendedores também têm sofrido com os ajustes anunciados pela Petrobras. Natália Rodrigues de Souza, de 30 anos, administradora do galpão Copagaz, em Bonsucesso, na Zona Norte da capital, calcula que, entre 2020 e 2021, as vendas caíram 50%. Para reduzir os custos, a distribuidora, que dava panos de pratos para os clientes a cada compra, suspendeu os brindes. Agora, o estabelecimento investe em panfletagem para alavancar o negócio.
Proprietário de uma revenda de gás em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Fábio Moreira vende o botijão por R$ 85, no depósito, e R$ 93, com entrega. Ele afirma que a elevação nos preços dos combustíveis também pressiona o caixa da empresa. Somado a isso, ainda há custos com a segurança dos botijões, que viraram alvo de criminosos.
“O combustível que eu gasto para buscar o GLP em Caxias e levar na casa do cliente encarece a operação. Ainda tenho que gastar com escolta armada, o que eu não precisava fazer há alguns anos”, lembra Moreira:
“Até o casco vazio ficou mais caro. Dois anos atrás, eu pagava R$ 55, agora custa R$ 240. Se um cliente quer comprar o botijão completo, eu falo que não tenho e só faço a recarga. Fico até com vergonha de cobrar mais de R$ 300 pelo produto”.
O programa SuperaRJ — criado pelo governo do estado durante a pandemia como um programa de renda mínima para a população de baixa renda e desempregados — terá uma cota extra destinada exclusivamente para compra de botijão de gás (GLP), conforme a Lei 9.383/2021, aprovada pela Assembleia Legislativa (Alerj) e sancionada recentemente. No entanto, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o processo encontra-se em período de regulamentação e não tem data para ser implementado.
No âmbito federal, nos últimos meses, Bolsonaro transformou o preço de combustíveis e do gás natural em ponto focal de seus discursos, culpando governadores pelo alto preço. Na quarta-feira (dia 29), ele sugeriu que caso fosse aprovada a venda direta de gás de cozinha e se os impostos fossem zerados, o preço poderia cair pela metade. O presidente ainda destacou que, no início de 2021, zerou o PIS/Cofins que incidia sobre o combustíveis.
Apenas R$ 3 de redução
Para o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), a medida é insuficiente por reduzir apenas R$ 3 do preço cobrado do consumidor tendo, em contrapartida, uma renúncia fiscal muito grande.
Também na quarta-feira passada, a Petrobras informou que vai destinar R$ 300 milhões para a criação de um programa social de apoio a famílias em situação de vulnerabilidade social, para garantir que tenham acesso a insumos essenciais, com foco no gás de cozinha. A ideia é criar um fundo com a participação de outras empresas da indústria de óleo e gás.
Dias antes, o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, havia dito que não caberia à empresa ações para subsidiar o preço do botijão de gás, ressaltando que a Petrobras recebe 48% do valor do botijão de 13kg.
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Tendência de alta do barril do petróleo
Tiago Sayão, professor de economia do Ibmec/RJ, considera difícil afirmar que a política vai bastar por haver uma tendência de elevação do preço do barril de petróleo no cenário internacional, o que pode continuar pressionando os preços dos derivados internamente. Além disso, ele aponta as incertezas políticas e econômicas como fatores que contribuem para oscilações na taxa de câmbio, tornando a moeda brasileira ainda mais desvalorizada.
“Para as famílias de baixa renda, o gasto com o consumo de gás representa uma parte relevante do orçamento. É preciso lembrar que a alta nos preços dos alimentos somada à elevação da energia elétrica já reduziu bastante o poder de compra dessas famílias”, opina Sayão:
“Não há alternativas viáveis sem a intervenção do poder público. Dado o critério de essencialidade do gás, somente a adequação do preço ao orçamento familiar resolve, parcialmente e momentaneamente, o dilema”.
Fonte: Extra
Após consecutivos aumentos, o botijão de gás já chega a custar 10% do salário mínimo no Estado do Rio, o que faz com que muitas famílias o utilizem apenas em situações específicas, como em dias de chuva ou para preparos rápidos, como um café. Nos outros momentos, a lenha é a solução mais barata para cozinhar. Quem ainda tem condições de apertar o orçamento para não deixar faltar o item reclama de pagar até R$ 111 pelo GLP. E mesmo os revendedores já vêm sofrendo impactos, tendo que se desdobrarem para manter o negócio.
A dona de casa Andrea Rodrigues, de 52 anos, que mora em Nilópolis e tinha hábito de fazer “comida fresca” todos os dias, decidiu trocar o jantar por lanches feitos de pão integral, salada, atum ou queijo, a fim de economizar.
“Antes, eu cozinhava duas vezes por dia. Agora, só faço comida no almoço mesmo”, conta.
Desde janeiro, o preço médio do botijão de gás para o consumidor subiu quase 30%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o que equivale a cinco vezes a inflação acumulada no período. Na última semana, valor máximo registrado pela ANP na cidade do Rio de Janeiro foi de R$ 102. No entanto, um levantamento do EXTRA encontrou o produto por até R$ 111,90.
Queda de 50% nas vendas
Os revendedores também têm sofrido com os ajustes anunciados pela Petrobras. Natália Rodrigues de Souza, de 30 anos, administradora do galpão Copagaz, em Bonsucesso, na Zona Norte da capital, calcula que, entre 2020 e 2021, as vendas caíram 50%. Para reduzir os custos, a distribuidora, que dava panos de pratos para os clientes a cada compra, suspendeu os brindes. Agora, o estabelecimento investe em panfletagem para alavancar o negócio.
Proprietário de uma revenda de gás em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Fábio Moreira vende o botijão por R$ 85, no depósito, e R$ 93, com entrega. Ele afirma que a elevação nos preços dos combustíveis também pressiona o caixa da empresa. Somado a isso, ainda há custos com a segurança dos botijões, que viraram alvo de criminosos.
“O combustível que eu gasto para buscar o GLP em Caxias e levar na casa do cliente encarece a operação. Ainda tenho que gastar com escolta armada, o que eu não precisava fazer há alguns anos”, lembra Moreira:
“Até o casco vazio ficou mais caro. Dois anos atrás, eu pagava R$ 55, agora custa R$ 240. Se um cliente quer comprar o botijão completo, eu falo que não tenho e só faço a recarga. Fico até com vergonha de cobrar mais de R$ 300 pelo produto”.
O programa SuperaRJ — criado pelo governo do estado durante a pandemia como um programa de renda mínima para a população de baixa renda e desempregados — terá uma cota extra destinada exclusivamente para compra de botijão de gás (GLP), conforme a Lei 9.383/2021, aprovada pela Assembleia Legislativa (Alerj) e sancionada recentemente. No entanto, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o processo encontra-se em período de regulamentação e não tem data para ser implementado.
No âmbito federal, nos últimos meses, Bolsonaro transformou o preço de combustíveis e do gás natural em ponto focal de seus discursos, culpando governadores pelo alto preço. Na quarta-feira (dia 29), ele sugeriu que caso fosse aprovada a venda direta de gás de cozinha e se os impostos fossem zerados, o preço poderia cair pela metade. O presidente ainda destacou que, no início de 2021, zerou o PIS/Cofins que incidia sobre o combustíveis.
Apenas R$ 3 de redução
Para o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), a medida é insuficiente por reduzir apenas R$ 3 do preço cobrado do consumidor tendo, em contrapartida, uma renúncia fiscal muito grande.
Também na quarta-feira passada, a Petrobras informou que vai destinar R$ 300 milhões para a criação de um programa social de apoio a famílias em situação de vulnerabilidade social, para garantir que tenham acesso a insumos essenciais, com foco no gás de cozinha. A ideia é criar um fundo com a participação de outras empresas da indústria de óleo e gás.
Dias antes, o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, havia dito que não caberia à empresa ações para subsidiar o preço do botijão de gás, ressaltando que a Petrobras recebe 48% do valor do botijão de 13kg.
Viu isso? ‘Não tenho como comprar comida, nem mesmo feijão’, reage desempregado a fala de Bolsonaro sobre fuzil
Tendência de alta do barril do petróleo
Tiago Sayão, professor de economia do Ibmec/RJ, considera difícil afirmar que a política vai bastar por haver uma tendência de elevação do preço do barril de petróleo no cenário internacional, o que pode continuar pressionando os preços dos derivados internamente. Além disso, ele aponta as incertezas políticas e econômicas como fatores que contribuem para oscilações na taxa de câmbio, tornando a moeda brasileira ainda mais desvalorizada.
“Para as famílias de baixa renda, o gasto com o consumo de gás representa uma parte relevante do orçamento. É preciso lembrar que a alta nos preços dos alimentos somada à elevação da energia elétrica já reduziu bastante o poder de compra dessas famílias”, opina Sayão:
“Não há alternativas viáveis sem a intervenção do poder público. Dado o critério de essencialidade do gás, somente a adequação do preço ao orçamento familiar resolve, parcialmente e momentaneamente, o dilema”.
Fonte: Extra
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