domingo, 30 de outubro de 2022

A difícil tarefa de reunificar o país

Autoridades, empresários, sindicalistas, religiosos e intelectuais campistas falam sobre o desafio de restaurar a harmonia política do Brasil



Clícia Cruz e Ocinei Trindade

O Brasil volta às urnas neste domingo (30) para decidir se o presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) continuará a governar o país ou se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve assumir o cargo a partir de 2023. Não há dúvida de que as eleições deste ano entram para a história como uma das mais disputadas e acirradas desde a redemocratização do país, em 1985. Independentemente de quem vencer, constata-se que a polarização e a radicalização entre bolsonaristas e lulistas deixam marcas em um país rachado e fraturado. São 156.454.011 eleitoras e eleitores que podem sentir (ou não) que o Brasil espalhou cacos pelo chão do país, e que estes precisam ser colados novamente após o pleito.

As duas poderosas correntes políticas de direita e de esquerda defendidas pelos candidatos Jair Bolsonaro e Lula da Silva têm mobilizado e afetado, de algum modo, os brasileiros de todas as idades, classes sociais, profissões, religiões, níveis de escolaridade e etnias. Após o resultado das urnas ser definido e concluído, fica a questão sobre o que acontecerá no país em seguida. Se ambos os lados aceitarão a vitória e a derrota de cada um dos candidatos à Presidência da República para o mandato nos próximos quatro anos. Há setores da sociedade que defendem a pacificação do país, independentemente de quem vença e de quem perca as eleições em 2022. Como fazer?

A reportagem ouviu representantes de diferentes segmentos da sociedade fluminense sobre o que esperam do próximo presidente do Brasil, e como o mandatário e os representantes no Congresso Nacional poderão auxiliar na reunificação do país dividido por paixões violentas no que diz respeito aos processos político e eleitoral. São reflexões do governador do Rio de Janeiro, de prefeitos, sindicalistas, empresários, lideranças religiosas e intelectuais. Eles arriscam dizer sobre o futuro do Brasil pós-eleição.
Wladimir Garotinho
Claudio Castro
Fátima Pacheco
Francimara Barbosa Lemos
Clarissa Garotinho

POLÍTICOS DA REGIÃO
Wladimir Garotinho Prefeito de Campos
Temos que respeitar as escolhas individuais de cada um. Acho que determinar o que as pessoas pensam com rótulos, se elas são de direita, de esquerda, de centro, é limitar as pessoas e o que elas pensam e podem fazer pela sociedade. Da mesma forma, o equilíbrio e o diálogo devem pautar as relações políticas e institucionais, independentemente do resultado.

Claudio Castro Governador do RJ
Em primeiro lugar, é preciso aceitar o resultado da eleição. Precisamos entender que nós precisamos ser um Brasil só para crescer. O respeito à democracia passa por aceitar e apoiar o vencedor.

Francimara Barbosa Lemos
Prefeita de São Francisco de Itabapoana
É preciso que os poderes constituídos, Executivo, Legislativo e Judiciário, trabalhem com harmonia, respeitando a independência de cada um deles e, principalmente, a Constituição Federal, garantindo a preservação do Estado Democrático de Direito. Cabe ao cidadão acompanhar permanentemente a atuação dos representantes eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo, fiscalizando e cobrando.

Fátima Pacheco Prefeita de Quissamã
É necessário que o presidente tenha uma postura respeitosa e democrática com todos. Não há espaço para brigas, individualismo e preconceito. A postura do presidente reflete no comportamento da sociedade e também na visibilidade do país no exterior. O país precisa dialogar com os setores e classes, unificando estados e prefeituras. Só assim vamos conseguir avançar em pautas importantes.

Clarissa Garotinho Deputada federal
O presidente Bolsonaro conseguiu fazer maioria no Congresso Nacional. Temos congressistas de maioria conservadora, o que vai contribuir muito para a paz e a reunificação do País após as eleições.
Edson Braga
Tezeu Bezerra
Maria das Graças Rangel
Fernando Loureiro
Edvar Júnior

SINDICATOS E ENTIDADES

Edson Braga Coordenador do Sepe-Campos
Vivemos um momento crítico, em que é preciso repensar o país que queremos para os próximos quatro anos. Temos que ter políticas que liguem os entes federativos nessa reconstrução do país e também agir a favor das minorias, dos mais pobres e fragilizados. Temos que ter experiência, competência, boa vontade e coragem para tentar um país melhor.

Tezeu Bezerra Coordenador do Sindipetro NF
O primeiro passo para pacificar e reunificar o país é o presidente eleito ter o reconhecimento do seu opositor, de que ele foi vitorioso na eleição. Nenhum dos dois que ganhar pode ter como base a mentira. É necessário que o presidente eleito converse com todos os partidos, as correntes políticas de todos os estados, sentar com todos que foram eleitos nas urnas e ver qual é a prioridade do povo.

Maria das Graças Rangel Presidente do Simec
Temos que reunir o futuro presidente, o Congresso Nacional, representantes da população para restabelecermos o marco civilizatório no Brasil. Isso tudo tem gerado um grande conflito porque as pessoas não estão respeitando a democracia. Nós temos que respeitar a civilização dentro do nosso país, respeitar a democracia, respeitar a opinião dos outros.

Fernando Loureiro Presidente da ACIC
Todo brasileiro de bom senso, que pensa no futuro do país e da nação, não tem que continuar atrelado a rusgas, problemas políticos menores. Vamos unir forças porque o Brasil precisa crescer, se desenvolver, gerar emprego, gerar renda, gerar tudo o que nós precisamos para nossa sobrevivência. As divergências têm que ter um ponto final após as eleições.

Edvar Júnior Presidente da CDL Campos
O presidente eleito terá, certamente, que lidar com o imprevisível, pois ainda não sabemos os efeitos e as sequelas de uma guerra em curso na Ucrânia, o que assusta a economia mundial. Existem problemas de ordem social, cujas soluções terão que ser encontradas. O eleito terá que avançar em reformas diversas para não frustrar o ambiente de empreendedorismo e de empregabilidade almejado por todos.

José Fernando
Renan Siqueira
Dom Fernando Rifan
José Luís Vianna
Jefferson Manhães

RELIGIOSOS E INTELECTUAIS
José Fernando Rodrigues 
Historiador e analista político
Independente de quem vencer, vai precisar adotar um modelo de coalizão. O modelo presidencialista brasileiro é de coalizão. Ainda que nós tenhamos uma gama de partidos com espectro à direita e outros à esquerda, há um grupo de partidos que não se definem desta maneira. São partidos de formação de coligação. O presidente eleito terá que fazer composição, e, talvez, mais composição do que nunca.

Renan Siqueira Pastor e presidente da Associação Evangélica de Campos
O Brasil é um país que tem tudo para se tornar a maior potência do mundo, pois suas riquezas são incontáveis em todos os níveis. O próximo presidente, juntamente com o Congresso Nacional e a sociedade, precisará se unir em torno do bem-estar do cidadão, da família e da nação brasileira.

Dom Fernando Rifan Bispo tradicionalista da Igreja Católica
É tempo de pensarmos na paz. Mesmo que pensemos diferente, não devemos nos odiar. O fanatismo cega e leva ao ódio. Devemos sempre querer a paz, acima de quaisquer diferenças. Quem vencer a eleição deverá pensar sempre no Brasil como um todo, pensar em governar para todos os brasileiros. Com a eleição, acabou a divisão. Que Deus nos dê a sua paz.

José Luis Vianna Cruz Cientista político
A reunificação da nação, não tenho dúvida, somente com um pacto. Isto ocorreu na Espanha, em Portugal e em outros países. Lá, a elite e as classes mais altas aceitaram abrir mão de seus privilégios. Será preciso ceder e fazer um pacto de programa mínimo que unifique a nação. Não sei se o Brasil é capaz de fazer isto formal e institucionalmente.

Jefferson Manhães Reitor do IFF
Eu acho que o caminho passa, primeiro, por respeitar o resultado das urnas. Segundo: despersonalizar os debates e fortalecer as instituições democráticas. Terceiro: olhar para o diferente como uma possibilidade de aprender. A diversidade enriquece o nosso convívio. São pontos de vista diferentes, são propostas diferentes que podem, na interação, se aprimorarem. É assim que a gente avança.
Fonte: Terceira Via

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