Lira Conspiradora completa 137 anos no dia 2 de agosto
Por Ulli Marques
Foto: Arquivo da Banda
Patrimônio cultural e imaterial de Campos, uma das bandas civis mais antigas da cidade completa 137 anos no dia 2 de agosto.
A Lira Conspiradora, fundada em 1882, deixa, ainda hoje, um legado que marca trajetória de gerações de músicos campistas engajados com as causas sociais e que, mesmo diante da falta de incentivo e das constantes dificuldades financeiras, resistem ao tempo.
Para comemorar a data, os músicos e seus familiares participarão de um coquetel na sede da banda, situada na Avenida XV de Novembro, no Centro. Além dos integrantes da Lira Conspiradora, estarão presentes ainda os instrumentistas da Lira Guarani que, por meio de uma parceria, uniram seus trabalhos e ideais a fim de que essa manifestação cultural permaneça viva.
Preservar essa história também foi a intenção da pesquisadora Karina Barra Gomes que, em sua dissertação de mestrado do programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), discutiu a importância dessas bandas civis de Campos que desempenharam uma função social para a cultura musical brasileira. “Há mais de um século, elas [as bandas] vêm harmonizando os ares do município de Campos dos Goytacazes, ajudando a celebrar suas alegrias, adornando suas ruas e contando sua história, ao entoarem suas melodias nos mais diferentes lugares”, declarou Karina em sua pesquisa.
Lira Conspiradora (Foto: Divulgação)
Campos possui hoje cinco sociedades musicais centenárias: Lira conspiradora, Lira Guarani, Lira de Apolo, Euterpe Sebastianense e Operários Campistas. Essas, conforme a tradição, além de estarem presentes nos acontecimentos mais significativos da cidade — entre festas, procissões e recepções ao longo desses anos —, também contribuíam para a constituição a identidade do povo campista que tinha o costume de sair às ruas para ver as bandas passarem. Ainda segundo Karina, mesmo sendo consideradas patrimônios imateriais do município, essas liras correm o risco de deixar de existir devido a falta de subsídios que as mantenham vivas.
O presidente das liras Conspiradora e Guarani, Ésio Ribeiro Amaral, contou à reportagem do Jornal Terceira Via que a Associação de Bandas de Música de Campos, de modo geral, passa por uma grave crise financeira decorrente da carência de investimentos públicos ou mesmo privados.
Uma das razões que levam à desvalorização das bandas civis, ainda de acordo com o presidente das Liras, é a opção pelas bandas militares nas solenidades e demais eventos municipais. Para Ésio, essa escolha seria motivada pelo o intuito de economizar recursos, uma vez que os músicos das bandas militares — como a da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros — são servidores estaduais, ao contrário das bandas civis, que precisam ser custeadas pelo município. A consequência disso é, não somente a falta de investimentos, mas o desconhecimento dessas bandas por parte do público mais jovem que, muitas vezes, nunca as viram tocar.
“Além das doações, muitas vezes investimos nossos próprios recursos para a manutenção dos instrumentos, pagamento de contas e outros custos. Já fizemos solicitações, já tentamos mostrar a importância dessas bandas para a história do município, mas acontece que a cultura é um investimento a longo prazo e cujos frutos muitas vezes não são concretos, por isso não recebem o devido valor”, lamenta Ésio.
Aulas de instrumento ainda são oferecidas a crianças de, no mínimo, 10 anos na Lira Guarani (Foto: Divulgação)
Formação de Músicos
Além da participação nos eventos históricos da cidade, as bandas civis também exerceram importante papel de escola formadora de músicos. De acordo com a pesquisadora Karina, “um bom número de instrumentistas profissionais do Brasil aprendeu suas primeiras notas musicais numa banda civil”.
“Além disso, há uma tradição e uma memória que são transmitidas de geração em geração no espaço social da banda, entre os músicos de diferentes faixas etárias, o que tem possibilitado a permanência desta manifestação na cultura brasileira. Os músicos das liras do Município, geralmente pessoas simples como pedreiros e oleiros, são impulsionados a prosseguir diante das dificuldades pelo “amor” que têm pela música, que passa a ser em suas vidas fator de autoestima”, explica Karina em sua dissertação de mestrado.
Em Campos, especificamente, a Lira Conspiradora, até bem pouco tempo atrás, oferecia aulas gratuitas de instrumentos de sopro. Contudo, nos últimos meses, essa atividade também precisou ser interrompida por falta de recursos. “Fazemos o possível para impedir que esse patrimônio seja extinto e ensinar música a esses jovens é uma das ações que ajudam a manter viva a tradição. É uma pena que tenhamos precisado interromper esse serviço, mas esperamos voltar em breve e continuar construindo o caminho da música na história das crianças e dos adolescentes de Campos”, afirmou o presidente da Lira Conspiradora.
Ainda assim, as aulas gratuitas de música continuam a acontecer na Lira Guarani, situada na Rua 13 de Maio, 141, ao lado da Secretaria de Fazenda, sempre às quintas-feiras a partir das 18h30. O público-alvo são crianças e adolescentes de comunidades carentes.
Lira Conspiradora
A Lira Conspiradora foi fundada no dia 2 de agosto de 1882, poucos anos antes da Proclamação da República. Essa banda, como tantas outras, foi formada por artesãos das mais diferentes categorias.
A Conspiradora participou de todos os acontecimentos públicos da cidade daquele período, seja em datas cívicas, seja em campanhas sociais, como o abolicionismo, por exemplo. O presidente da banda conta que “os músicos da banda caminhavam pelas ruas entoando canções e pedindo a abolição da escravatura”.
Ele destacou ainda a importância dessa banda para a igreja católica, uma vez que esteve presente em diversas solenidades desde sua fundação. A sede da Lira Conspiradora está localizada na Avenida XV de novembro. No andar térreo, há um ponto alugado para uma loja onde se consertam aparelhos eletrônicos. O salão fica no segundo andar, mas o prédio encontra-se, atualmente, em precário estado de conservação.
Fonte:Terceira Via
Por Ulli Marques
Foto: Arquivo da Banda
Patrimônio cultural e imaterial de Campos, uma das bandas civis mais antigas da cidade completa 137 anos no dia 2 de agosto.
A Lira Conspiradora, fundada em 1882, deixa, ainda hoje, um legado que marca trajetória de gerações de músicos campistas engajados com as causas sociais e que, mesmo diante da falta de incentivo e das constantes dificuldades financeiras, resistem ao tempo.
Para comemorar a data, os músicos e seus familiares participarão de um coquetel na sede da banda, situada na Avenida XV de Novembro, no Centro. Além dos integrantes da Lira Conspiradora, estarão presentes ainda os instrumentistas da Lira Guarani que, por meio de uma parceria, uniram seus trabalhos e ideais a fim de que essa manifestação cultural permaneça viva.
Preservar essa história também foi a intenção da pesquisadora Karina Barra Gomes que, em sua dissertação de mestrado do programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), discutiu a importância dessas bandas civis de Campos que desempenharam uma função social para a cultura musical brasileira. “Há mais de um século, elas [as bandas] vêm harmonizando os ares do município de Campos dos Goytacazes, ajudando a celebrar suas alegrias, adornando suas ruas e contando sua história, ao entoarem suas melodias nos mais diferentes lugares”, declarou Karina em sua pesquisa.
Lira Conspiradora (Foto: Divulgação)
Campos possui hoje cinco sociedades musicais centenárias: Lira conspiradora, Lira Guarani, Lira de Apolo, Euterpe Sebastianense e Operários Campistas. Essas, conforme a tradição, além de estarem presentes nos acontecimentos mais significativos da cidade — entre festas, procissões e recepções ao longo desses anos —, também contribuíam para a constituição a identidade do povo campista que tinha o costume de sair às ruas para ver as bandas passarem. Ainda segundo Karina, mesmo sendo consideradas patrimônios imateriais do município, essas liras correm o risco de deixar de existir devido a falta de subsídios que as mantenham vivas.
O presidente das liras Conspiradora e Guarani, Ésio Ribeiro Amaral, contou à reportagem do Jornal Terceira Via que a Associação de Bandas de Música de Campos, de modo geral, passa por uma grave crise financeira decorrente da carência de investimentos públicos ou mesmo privados.
Uma das razões que levam à desvalorização das bandas civis, ainda de acordo com o presidente das Liras, é a opção pelas bandas militares nas solenidades e demais eventos municipais. Para Ésio, essa escolha seria motivada pelo o intuito de economizar recursos, uma vez que os músicos das bandas militares — como a da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros — são servidores estaduais, ao contrário das bandas civis, que precisam ser custeadas pelo município. A consequência disso é, não somente a falta de investimentos, mas o desconhecimento dessas bandas por parte do público mais jovem que, muitas vezes, nunca as viram tocar.
“Além das doações, muitas vezes investimos nossos próprios recursos para a manutenção dos instrumentos, pagamento de contas e outros custos. Já fizemos solicitações, já tentamos mostrar a importância dessas bandas para a história do município, mas acontece que a cultura é um investimento a longo prazo e cujos frutos muitas vezes não são concretos, por isso não recebem o devido valor”, lamenta Ésio.
Aulas de instrumento ainda são oferecidas a crianças de, no mínimo, 10 anos na Lira Guarani (Foto: Divulgação)
Formação de Músicos
Além da participação nos eventos históricos da cidade, as bandas civis também exerceram importante papel de escola formadora de músicos. De acordo com a pesquisadora Karina, “um bom número de instrumentistas profissionais do Brasil aprendeu suas primeiras notas musicais numa banda civil”.
“Além disso, há uma tradição e uma memória que são transmitidas de geração em geração no espaço social da banda, entre os músicos de diferentes faixas etárias, o que tem possibilitado a permanência desta manifestação na cultura brasileira. Os músicos das liras do Município, geralmente pessoas simples como pedreiros e oleiros, são impulsionados a prosseguir diante das dificuldades pelo “amor” que têm pela música, que passa a ser em suas vidas fator de autoestima”, explica Karina em sua dissertação de mestrado.
Em Campos, especificamente, a Lira Conspiradora, até bem pouco tempo atrás, oferecia aulas gratuitas de instrumentos de sopro. Contudo, nos últimos meses, essa atividade também precisou ser interrompida por falta de recursos. “Fazemos o possível para impedir que esse patrimônio seja extinto e ensinar música a esses jovens é uma das ações que ajudam a manter viva a tradição. É uma pena que tenhamos precisado interromper esse serviço, mas esperamos voltar em breve e continuar construindo o caminho da música na história das crianças e dos adolescentes de Campos”, afirmou o presidente da Lira Conspiradora.
Ainda assim, as aulas gratuitas de música continuam a acontecer na Lira Guarani, situada na Rua 13 de Maio, 141, ao lado da Secretaria de Fazenda, sempre às quintas-feiras a partir das 18h30. O público-alvo são crianças e adolescentes de comunidades carentes.
Lira Conspiradora
A Lira Conspiradora foi fundada no dia 2 de agosto de 1882, poucos anos antes da Proclamação da República. Essa banda, como tantas outras, foi formada por artesãos das mais diferentes categorias.
A Conspiradora participou de todos os acontecimentos públicos da cidade daquele período, seja em datas cívicas, seja em campanhas sociais, como o abolicionismo, por exemplo. O presidente da banda conta que “os músicos da banda caminhavam pelas ruas entoando canções e pedindo a abolição da escravatura”.
Ele destacou ainda a importância dessa banda para a igreja católica, uma vez que esteve presente em diversas solenidades desde sua fundação. A sede da Lira Conspiradora está localizada na Avenida XV de novembro. No andar térreo, há um ponto alugado para uma loja onde se consertam aparelhos eletrônicos. O salão fica no segundo andar, mas o prédio encontra-se, atualmente, em precário estado de conservação.
Fonte:Terceira Via