Pico de mortes violentas ocorreu em 2022
POR DANIELA ABREUNúmeros apontam que, nos últimos anos, São Francisco de Itabapoana vive uma escalada da violência. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram uma crescente nos casos de homicídios dolosos. Desde o início da série histórica do ISP (em 2003), o ano com maior registro de assassinatos no município foi 2022, com 38 casos. Em 2021 foram 34 e em 2021 e 2020 as mortes violentas chegaram a 20. Em janeiro deste ano foram cinco assassinatos e, até o fechamento desta edição, os dados de fevereiro não haviam sido fechados pelo ISP. Alguns casos, como a morte de duas crianças, enquanto dormiam em casa, chocaram toda a região. As constantes ocorrências da Polícia Militar apontam também avanço do tráfico de drogas e disputa de território por facções criminosas. Barra de Itabapoana, localidade mais próxima à divisa com o Espírito Santo, vem somando ocorrências relacionadas ao comércio de drogas e de letalidade violenta, assim como o local conhecido como Ilha dos Mineiros, em Guaxindiba.
Um morador de Barra do Itabapoana, que não quis se identificar, temendo represália de pessoas ligadas ao tráfico, disse que a região não é mais a mesma. Ele informou que há disputa de território do tráfico nas localidades conhecidas como Morrinho e Siribeira. Esta última é onde, no dia 11 de fevereiro deste ano, uma granada foi localizada. O Esquadrão antibomba precisou ser acionado para desarmar o artefato explosivo.
Na ocasião, a Polícia Militar informou que foi acionada por volta de 4h, para verificar disparos de arma de fogo. Ao chegar no local, os agentes encontraram 12 cápsulas calibre 9 mm, 12 cápsulas calibre 380, uma munição picotada calibre 380, duas alças de granadas e um pino de granada na parte externa de uma casa abandonada, além de terem observado durante a diligência uma granada no mesmo local. As polícias Civil e Militar não informaram sobre a identificação ou prisão dos responsáveis.
Ainda de acordo com o morador, um jovem de 18 anos foi morto no dia 7 de setembro do ano passado, por facções criminosas que sabiam do envolvimento dos criminosos com o tráfico do Espírito Santo.
“Está todo mundo com medo. Até o Carnaval deste ano foi muito fraco. Teve a bandinha, muita polícia e pouca gente na rua. O motivo foi o medo das pessoas”, disse o morador.
Outro crime que chocou toda a região, em setembro de 2022, foi o assassinato dos irmãos Isaias Viana da Silva, de 12 anos e Ezequiel Viana da Silva, de 11, mortos com tiros na cabeça, quando dormiam no sofá, na sala de casa. A avó das crianças e o companheiro dela também foram baleados no crime.
Em Guaxindiba, logo na segunda semana do ano, uma mulher morreu e nove pessoas ficaram feridas após um atirador abrir fogo na Avenida Principal, na orla da praia de Guaxindiba. Dentre os feridos estava Fagner Azeredo, secretário de Trabalho e Desenvolvimento Humano do município, e irmão da prefeita Francimara Azeredo.
Não há informações que liguem os dois últimos casos ao tráfico de drogas. O suspeito teria encontrado um desafeto em um bar e feito os disparos.
Posicionamentos
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que “de acordo com o Comando do 8º BPM (Campos dos Goytacazes), existe um patrulhamento preventivo elaborado pela Seção de Planejamento e Análise Criminal”.
E completou: “O Batalhão possui uma extensão de faixa litorânea na ordem de 107 km, dividida em diversas praias e localidades que recebem uma quantidade substancial de turistas aos fins de semana. Baseado nesta demanda, o 8º BPM estrutura a estratégia de policiamento com vistas a remanejar o efetivo e prover de forma eficaz a segurança para toda a população. Seguimos destacando a importância dos acionamentos da população via Central 190, assim como dos registros oficiais em delegacias”.
Perguntada sobre a disputa de territórios e se há indícios de atuação das facções criminosas TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos) ou do Espírito Santo; sobre motivação do assassinato dos irmãos e sobre outros casos de violência na cidade, a Polícia Civil respondeu que “no ano passado, houve uma queda de 2,8% nos registros de crimes na circunscrição da 147ª DP (São Francisco do Itabapoana), segundo dados do Instituto de Segurança Pública.”
Efetivo pequeno
Especialista em Segurança Pública, Roberto Uchoa aponta um problema de efetivo na Polícia Militar, que acaba sobrecarregando os agentes.
“Nós temos um problema que é ter um Batalhão responsável por quatro municípios: Campos, São João da Barra, São Fidélis e São Francisco de Itabapoana, que, juntos, constituem uma extensão territorial absurda. Um Batalhão que, é de conhecimento notório de todos, sofre com escassez de recursos humanos. Eu tenho o entendimento de que, para o 8º Batalhão prestar um serviço minimamente adequado, teria que trabalhar com, no mínimo, o triplo do efetivo. Não dá para ter um efetivo que, contando folgas, licenças, atividades-meio e trabalhos internos, tenha nas ruas, diariamente, uma quantidade pequena de policiais, sendo preciso compensar com programas como Regime Adicional de Serviço (RAS), Segurança Presente, onde se paga um dinheiro a mais, ou seja, um novo custo, para que o policial, no seu momento de folga, trabalhe mais. Isso é péssimo, porque tira o tempo de descanso desse profissional e acaba gerando estresse e situações que depois podem acabar levando a outros problemas”, aponta.
Questionada, a PM informou que, por motivos estratégicos, não divulga efetivos das unidades.
Para Roberto Uchôa, sem efetivo para um policiamento ostensivo eficaz na disputa por territórios, a sensação de segurança da população continuará prejudicada. “Vamos continuar a sofrer com essa violência relacionada à disputa por controle de mercados ilegais, como tráfico de drogas, armas e controle de territórios e vamos ter ações pontuais, como investigações da Polícia Civil, que prendem criminosos A,B e C, relacionados à determinadas atividades, mas que não resolvem o contexto. Fica a sensação de sempre estar enxugando gelo, em que se prende, mas não melhora a sensação de segurança. E este é um problema”, analisa.