segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sociedade escolar sofre com a “lei” imposta pelo tráfico de drogas

Professora diz que constantemente é agredida e ameaçada por alguns estudantes envolvidos no crime

Houve tempo em que alunos indisciplinados eram severamente punidos com a palmatória, uma espécie de régua com uma das extremidades em forma de círculo. O artefato não era usado somente na escola, como muitos podem pensar. Dentro de casa os pais também usavam o instrumento para penalizar os filhos. Mas isso foi lá nos séculos 19 e 20. Os tempos mudaram. Hoje, além de não educar, muitos pais abandonaram os filhos à própria sorte, uma vez que a legislação proíbe qualquer ação punitiva que possa gerar constrangimento ao menor. Assegurados pelo Estatuto da Infância e do Adolescente (ECA), muitos alunos têm feito professores e colegas de turma reféns de crimes como agressão, ameaça e até estupro. Sem temer punição, menores em conflito com a lei, desafiam as autoridades policiais, que nem sempre conseguem mantê-los afastados das vítimas. Alguns casos sequer são denunciados.

Ao contrário de alguns de seus alunos, a professora que identificaremos como Maria, tem muito medo. Ela diz que constantemente é agredida e ameaçada por alguns estudantes que impõem a “lei” do tráfico de drogas dentro da escola.

“É muito triste admitir que estou desmotivada. De um lado, estão os alunos que não querem compromisso com a aprendizagem e agridem quem se coloca contrário ao modo de viver deles. Do outro, está o governo, que trata os professores e suas causas com desdém, mas exige resultados. Já trabalhei em três escolas. Percebi que o dinheiro que ganhava não dava para comprar remédios para hipertensão, tendinite e depressão, doenças que adquiri em 20 anos de magistério. Hoje, trabalho em duas escolas. Tenho mais qualidade de vida e tempo para me cuidar. Não vale a pena se matar e não ser valorizada”, desabafa a professora.

Maria destacou que muitos professores se afastam das salas de aula. “Quando não entregam testado médico, eles pedem transferência de setor ou para outras secretarias. Essa última opção é para quem tem conhecidos na política”, declarou.

A psicóloga Luciane Mina destaca que a tecnologia fez com que o contato entre as pessoas aumentasse, mas a convivência não caminhou na mesma proporção. “O mercado diz que tudo tem que ser muito rápido. Esse pensamento invadiu a mente da sociedade, que passou a ter relacionamentos fugazes. Com isso, perdemos a oportunidade de gerenciar nossas emoções. Precisamos aprender a ser gente e a conviver com as pessoas.

De acordo com o adjunto da delegacia de Guarus, Pedro Emílio Braga, a cifra negra – referência usada para identificar os crimes que não chegam ao conhecimento da polícia – é muito grande em relação à violência nas escolas. “A maioria dos casos são resolvidos nas unidades mesmo. Por isso o número de registros é muito baixo, chegando a dez por mês. A gente sabe que o número é muito maior, principalmente em Guarus, onde a concentração de menores em conflito com a lei é maior”, explica o delegado.

Braga explica ainda que a partir do registro da ocorrência, a polícia tem um quadro real dos crimes cometidos e pode reprimir todas as formas de delito. “A polícia pede que professores, alunos, ou qualquer vítima de crimes ocorridos na escola façam o registro na delegacia. Os delitos mais comuns neste ambiente são lesões corporais e crimes contra a honra”.

Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que não existe um levantamento específico sobre o índice de violência nas escolas da rede. “As unidades escolares, de um modo geral, têm por rotina promover encontros regulares com os pais para tratar desses e outros temas relevantes que possibilitem a ordem e a segurança da comunidade escolar. Algumas delas têm ainda projetos próprios que incentivam o diálogo e o respeito dentro e fora do espaço escolar. Se necessário, o Conselho Tutelar é acionado”.

A nota diz ainda que a “Seeduc conta com uma Assessoria Técnica de Saúde e Bem Estar, que envia equipes pedagógicas e de recursos humanos para prestar auxílio a alunos, funcionários e familiares, em situações de maior gravidade. Desde 2012, algumas escolas estaduais também começaram a fazer parte do Programa Estadual de Integração da Segurança (Proeis), no qual policiais militares ministram palestras sobre dependência química e prevenção. O município de Campos conta com 2.082 professores. Ressaltamos que os afastamentos na rede acontecem para tratamento de saúde, e não por violência”, finaliza a nota.

A Secretaria Municipal de Educação não se manifestou sobre o assunto.
Cláudia dos Santos

Terceira Via/Show Francisco



 

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