segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Dia de fé e festejos


Jhonattan Reis/Fotos: Marcos Gonçalves

Tradição que atravessa gerações. Assim é a Cavalhada, um dos últimos eventos — e um dos mais esperados — da Festa de Santo Amaro, na Baixada Campista, que chegou ao fim de sua 284ª edição neste domingo (15). Cerca de 40 mil pessoas, segundo a Prefeitura, compareceram ao evento — desde a pequena Gabrielle Machado Siqueira, de 10 anos, até a aposentada Maria da Conceição Gomes, de 88. O evento é uma representação do conflito entre mouros e cristãos e foi trazida para Campos pelos monges beneditinos. A encenação, que foi realizada pela primeira vez em 1736, é motivada pela paixão do Rei Mouro. Ele se encanta com a filha do Rei Cristão, que se opunha à união do casal, sendo o combate vencido pelos cristãos.

A Cavalhada aconteceu à tarde. Começou pouco depois das 15h, com a caminhada dos cavaleiros do local de concentração até o “campo de batalha”. A pequena Gabrielle tem apenas 10 anos, mas há seis já participa do evento e, neste domingo, acompanhou os cavaleiros durante o trajeto. A mãe dela, a professora Josônia Machado Siqueira, de 48 anos, contou que a primeira participação foi devido a uma promessa. “Minha mãe prometeu a Santo Amaro, quando ela tinha 4 anos. Depois disso, ela participa todo ano porque gosta e muito”, disse Josônia, moradora de Poço Gordo. Depois, Gabrielle observou a representação das arquibancadas.

Já dona Maria da Conceição lembrou que trabalhou na confecção das roupas dos cavaleiros por 60 edições, o que, por conta da idade, não faz há seis anos. “Comecei a fazer isso logo que cheguei a Santo Amaro, quando eu tinha 22 anos. Toda esta festa é muito importante. A gente conhece muita gente boa. É ótimo ver que continua tudo muito bonito. Vejo as crianças acompanhando e até participando, sendo que eu também participava quando era jovem. Agora já estou velha”, brincou ela, que é natural de Quissamã e tem dois filhos.

No campo de batalha, mouros de vermelho e cristãos de azul. Ao todo, 24 cavaleiros. Com 54 anos de idade e morador do Caboio, o ferreiro Altomir Manhães, de azul, foi o cavaleiro mais antigo a entrar na “guerra”. “Participo da batalha há mais de 20 anos. Comecei na equipe dos cristãos. Teve anos que faltou cavaleiro no lado dos mouros e troquei o lado. Mas desta vez, como na maioria, estou no lado azul. É um evento muito antigo, lindo e tradicional”, comentou.

Há um ano, o estudante Carlos Chagas, de 15 anos, participava da Cavalhada pela primeira vez. Neste domingo, assim como da outra vez, ele esteve ao lado dos mouros. “É muito importante seguir esta programação e não deixar ela se perder. Sou de Santo Amaro e sempre quis participar. É muito emocionante você entrar, estar ali, junto, e depois sair com orgulho do que fez”, comentou Carlos.

Um dos organizadores da tradicional Cavalhada é corretor de seguros Fernando Telles, de 52 anos, nascido e criado em Santo Amaro. “Este é o marco principal da festa, de 284 anos. A gente faz tudo isso com muito amor e dedicação, para não deixar isso tudo se perder. É importante manter tudo isso. No Brasil existiam em torno de 16 cavalhadas. Hoje só há duas — nós e a outra, de Florianópolis”, disse ele ao lembrar que os ensaios para a Cavalhada iniciam no mês de novembro.

Fernando, que está há quase 30 anos envolvido com a festa do padroeiro da Baixada Campista, concluiu: “Precisamos da população e dos órgãos públicos para cultivar nossa cultura. Não vamos deixar essa tradição acabar e nem parar”.

Como parte da remontagem da história da batalha entre mouros e cristãos, montados em cavalos enfeitados com plumas na cabeça, unhas pintadas e metais polidos, os cristãos venceram a batalha após cerca de uma hora de encenação.
Fmanha/Show Francisco

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