Dora Paula Paes
Transporte público / Rodrigo Silveira
O Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT) de Campos espera que até a próxima terça-feira, dia 21, seja publicado o edital para a contratação da empresa que ficará responsável pela obra das três estações para a implantação definitiva do sistema de integração. A tentativa é para tirar do “CTI” o transporte público, antes que 2022 chegue ao fim. O prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) garante que o projeto será moderno, com estações de integração consideradas decentes, que ofereçam dignidade, conforto, segurança e agilidade, bem diferentes dos antigos “terminais da humilhação”, como voltou a frisar. Na outra ponta, população, empresários e permissionários explicam seus pontos de vista e o que esperam.
Após a publicação do edital, para escolha de empresa única, o presidente do IMTT, Nelson Godá, explica que o próximo passo, em 30 dias, será a licitação. “São três projetos; um para cada estação. Previsão de entrega de 90 a 120 dias após a licitação da empresa contratada para estar realizando obra, conclusão e entrega”, afirma. Porém, Godá esclarece que o projeto da Bilhetagem Eletrônica caminha junto com o das estações. “Com as estações, a gente vai precisar do sistema ativado, porque é através da bilhetagem que vou conseguir pagar a integração das viagens aos operadores”, completa.
Wladimir também não vê a hora dos dois projetos saírem do papel. “Na campanha, nós dissemos que aqueles pontos de ônibus montados pelo governo anterior eram terminais da humilhação, um descaso com os usuários do transporte público. Nós estamos agora apresentando um projeto moderno com estações de integração decentes, que oferecem dignidade, conforto, segurança e agilidade. Nós estamos fazendo os terminais a pedido dos concessionários de ônibus e permissionários de vans, que pediram para voltar”, disse.
O próprio prefeito descreve o que consta nos projetos: “As estações vão fazer a integração entre vans e ônibus, com as plataformas dimensionadas para oferecer segurança e conforto para a população, incluindo idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Elas terão banheiros adaptados e acesso seguro para ciclistas (com bicicletários) e pedestres. As estações de integração contarão com área de embarque e desembarque para quem chega de táxi ou carro particular. As estações vão contar com monitoramento 24 horas todos os dias da semana, sistema de informações para o usuário, mostrando o destino e a previsão de chegada dos veículos”.
Wladimir também fala do sistema de bilhetagem. O projeto chegou à Câmara e passou por duas audiências públicas para ajustes, com sugestões do Legislativo, de empresários, permissionários do transporte alternativo e população. “A nova lei da bilhetagem já foi para a Câmara há mais de uma semana e ela é necessária para a gente fazer a melhor gestão do sistema de transporte. Ela se conecta com as estações de integração, que só poderão funcionar corretamente se a bilhetagem estiver operando”, explica.
Projeto dos terminais / Divulgação População espera que espaços sejam dignos
O IMTT já divulgou as localidades que irão receber os projetos sem, no entanto, detalhar o local preciso. Para a população o importante é que o projeto físico ofereça dignidade para quem vai fazer a troca e, principalmente, que tenha condução para integrar o percurso. Em Ururaí, um dos distritos que vão receber a estação, em muitos pontos como os que ficam às margens da BR 101, não existe marquise para a população. Apenas, com indicativo de parada de ônibus, a população fica na beira da pista.
— Esperamos que as instalações sejam dignas. Precisa ter espaço para sentar, principalmente, os idosos. E acima de tudo, ter ônibus ou vans que atendam. Porque, no momento, não tem — destaca a professora Luane Ramos, ressaltando que se a integração funcionar, será bom. “Agora, se for para fazer uma coisa bagunçada como foi da outra vez, não vai resolver. Foi horrível, não existia essa integração. As pessoas desciam no Shopping Estrada, corriam, e chegavam lá, mas não tinha van. Era um tal de espera. Penso que não adianta estrutura, se não tiver a condução para fazer essa integração”, completa a também professora Maria Rodrigues.
Se na primeira vez, as tendas da integração foram montadas na área do Ceasa, na BR 101, desta vez a área escolhida é no distrito de Travessão. O local ao certo não foi divulgado, mas será no Km 10 da rodovia federal. Quanto à terceira estação, o IMTT informa que será em Donana, na Baixada Campista, sem também revelar o local. “Já ouvimos que terá integração novamente. O que esperamos é um local digno, porque da outra vez a situação foi dramática para quem esperava naquele espaço montado próximo à 28 de Março. Quando não era sol, era chuva”, destaca a comerciária, Rosangela Santanna.
Empresários dizem que estão no escuro
De acordo com empresas de transporte coletivo, os terminais já deveriam estar prontos, conforme prazo definido no acordo judicial. Em nota, o setor destaca: “As empresas não têm conhecimento sobre o andamento dessa implantação, apenas sabem que a operação será equivalente à que existia até 2020, ou seja, os permissionários de vans farão apenas o transporte alimentador, conforme o acordo”.
Os empresários afirmam que há outro descumprimento do acordo por parte do poder concedente e IMTT e, neste ponto, a reclamação é em relação à efetiva fiscalização do transporte ilegal. “Pois esse tipo de transporte está em crescente operação na cidade sem uma ação efetiva do IMTT”, denunciam.
Eles também temem a mudança, segundo eles, de um sistema confiável e que já está em funcionamento há anos, por um sistema novo que não sabem se irá funcionar corretamente, em um momento tão turbulento do transporte do município. “O projeto (de bilhetagem) enviado pelo IMTT está em desacordo com o Edital de licitação 001/2013, que tem força de lei, caracterizando uma quebra de contrato por parte da Prefeitura”, completa a nota.
Transporte público / Rodrigo Silveira
Permissionários apontam estar temerosos
Os permissionários do transporte alternativo têm suas dúvidas quanto ao funcionamento na prática das estações. Muitos, inclusive, alegam que não queriam o sistema de volta. Pelo menos, foi o que disse um dos representantes do setor, Bruno Santana, presidente da Cooperativa Campos Cootran, que tem permissionários nos seis setores.
Segundo ele, existem pelo menos dois motivos para não desejar a forma que está se desenhando. “Primeiro motivo, os locais onde serão posicionadas as estações vão afetar em torno de 40% a 50% dos permissionários atuantes, principalmente, os de linhas curtas”, disse ele, exemplificando:
— A linha de Travessão, onde está previsto o terminal de integração, na localidade do Canaã até Travessão, é de um trajeto em torno de 6 km ou 7 km, o que deixa a linha muito próxima no carregamento. Nossa preocupação é como vai ficar o equilíbrio financeiro.
A segunda preocupação é com o atendimento. Bruno diz que não tem boas lembranças do antigo sistema, que será copiado. “Os permissionários deixavam os passageiros, mas os ônibus não chegavam no horário. Quando chegavam, saiam superlotados, e isso promovia desgaste no passageiro. O passageiro começava a optar por não andar mais de transporte público, o que alimentou muito o transporte clandestino”, explica.
Bruno diz que tem uma opinião sobre o assunto. Segundo ele, o sistema deveria ser híbrido. Quando os dois modais trabalhariam juntos, na mesma linha, de forma organizada. “Isso quebraria o monopólio e obrigaria os prestadores de serviço a melhorar a qualidade e com isso o usuário ganha”, pontua.
Fonte:Fmanhã
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