Mauro
de Souza
“O sertão
vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Parece que os trechos do saudoso ‘rei
do baião’ Luiz Gonzaga, o Gonzagão vem se concretizando pouco a pouco nas
praias da região.
Na tarde desta sexta-feira (11/01), uma família foi
removida por agentes da Defesa Civil Municipal de São João da Barra para um
abrigo público no município, após a interdição de sua residência. Com o avanço
da maré, na tarde de sexta até a madrugada deste sábado (12/01), parte do
imóvel dos residentes foi levado pelas ondas do mar.
O coordenador da Defesa Civil,
Adriano Martins de Assis disse a reportagem que várias famílias já foram notificadas quanto ao
risco de permanecerem no local, no entanto, alguns ainda oferecem resistência e
não aceitam deixar suas casas.
“A família que foi levada ontem (sexta-feira –
11/01) já havia sido notificada há um bom tempo. Dessa vez não teve jeito, pois
a maré avançou mais de um metro e levou parte da estrutura da casa deles. De
acordo com dados da Marinha do Brasil, de onde obtemos essas informações, a
previsão é de que a partir das 21h, a maré já irá começar a diminuir um pouco,
podendo chegar a um metro”, informou o coordenador.
Preocupados com a situação e com a possibilidade de
perder seu estabelecimento comercial, o casal Deusimar Campista, conhecido como
Campista, 51 anos e Vânia Nogueira, 46, contaram que já tiraram quase tudo do
bar por conta da aproximação da maré.
“A gente se sente ameaçado, por isso, resolvemos
tirar nossos pertences e os eletrodomésticos de dentro do bar. Este é o
terceiro verão que estamos aqui e ficamos tristes, pois compramos todo o
estoque para abastecer o local para esta temporada. Infelizmente não podemos
fazer nada contra a natureza. Agora é aceitar a situação e entregar para Deus”,
lamentou Vânia acrescentando que o chão está rachando e pode ceder a qualquer
momento.
Pescador e morador de Atafona há mais de
15 anos , José Luis Gonçalves Rosa, 38 anos, está temeroso, pois sua casa
também está ameaçada de cair a qualquer momento. “Eu só saio daqui se tiver a
certeza de que terei uma casa para morar com minha família. Não vejo ninguém
fazer nada por nós aqui e isso é lamentável. Eu vivo da pesca e se cair tudo
aqui não terei para onde ir”, lamentou.
ATAFONA:
RELATOS DE UMA HISTÓRIA
Com três livros publicados sobre a
história de Atafona, o jornalista João Noronha relatou o porquê do balneário sanjoanense ser um dos mais
prejudicados por conta da maré alta.
Segundo ele, Atafona, por ficar na foz do rio, rio
esse que a cada ano perde mais e mais sua força, tem algumas de suas casas
construídas muito próximas do mar. O que não acontece em outras praias de São
João da Barra como Grussaí e Chapéu do Sol, onde as residências são mais
distantes da orla marítima.
“O rio vai se enfraquecendo e o mar avançando. O
que acontece em Atafona é que o mar, hoje, tenta recuperar o espaço que ele
perdeu com as intervenções do homem e as ocupações irregulares. Tudo isso que
está acontecendo tem uma série de fatores que contribuíram para o mar se
afastar e recuar”, informou Noronha acrescentando:
“O mar na verdade é um ciclo de avanços e recuos.
Então ele avança durante quatro ou cinco anos e recua oito, voltando a avançar
novamente, só que dessa vez, destruindo tudo que encontra pela frente”.
O jornalista, que também perdeu uma casa para o
mar, residência esta pertencente a três gerações de sua família, uma belíssima
chácara de 1.700 m², contou que hoje, evita de ir ao balneário sanjoanense para
não relembrar o ocorrido. “Foi lá que eu passei toda minha infância e
adolescência. Eu vivi ali até 2005 e perdi a casa no ano de 2006. É lamentável
Atafona perder cada vez mais seu espaço e sua história. A parte antiga da praia
está totalmente comprometida. É uma perda significativa”, lamentou Noronha.
PRAIA
NÃO ESTÁ LIBERADA PARA BANHO
De acordo com o coordenador da Defesa
Civil, Adriano Martins de Assis, com a maré cheia, a praia fica impossibilitada
de ser utilizada pelos banhistas. “A gente pede e alerta para que as pessoas
não se aproximem do local, mas as mesmas resistem e acabam entrando no mar
mesmo sabendo dos perigos que correm”.
Na tarde da última quarta-feira
(09/01), o agente da Guarda Civil Municipal
Sidney Ananias Costa, desapareceu por volta das 14h30, nas águas
do pontal, em Atafona. O corpo foi encontrado por mergulhadores do Corpo de
Bombeiro Militar. Após a morte do agente, uma bandeira preta foi colada no
local indicando que a área é de risco.
Salva
vidas no Pontal, Gilmar dos Santos disse que sempre alerta os banhistas quanto
as áreas de risco. Segundo ele, o local onde a tragédia aconteceu, é uma área
utilizada somente para pesca e prática de surfe.