Suzy Monteiro/Michelle Richa
Muito antes do Previcampos, os Garotinho já tinham um histórico de polêmicas com Instituto de Previdência de servidores públicos. Matéria da revista “Época”, publicada em 2010, mostrou que, em seu primeiro mandato na Prefeitura de Campos, Anthony Garotinho criou a Caixa de Assistência e Previdência de Campos (Caprev). Para presidi-la, nomeou Jonas Lopes de Carvalho. Cada servidor do município sofria descontos de 8% a 11% por mês, dependendo da faixa salarial, para capitalizar a Caprev. No fim do governo, os adversários descobriram que o caixa da Caprev estava vazio. O então presidente da instituição negou irregularidades na ocasião. “Quando Garotinho deixou a prefeitura, havia na Caprev, que eu presidi, algo em torno de US$ 2 milhões”, afirmou Jonas à época. Já em 2006, a polêmica foi com o fundo dos servidores da Cedae (Prece). Agora, a polêmica retornou no governo Rosinha.
Na matéria da revista Época, o ex-vereador Antônio Carlos Rangel lembrou que, na ocasião, apresentou à Câmara Municipal um requerimento de informações sobre a Caprev. “Meu pedido foi rejeitado porque Garotinho tinha maioria”, afirmou, acrescentando ainda: “Dos 21 vereadores, apenas cinco votaram comigo.” A caixa de previdência seria desativada na gestão seguinte, de Sérgio Mendes. “Quando saí da prefeitura a Caprev estava em perfeito funcionamento”, garantiu Garotinho.
Documento interno da prefeitura, o ofício 64/96, foi apresentado pela Época na reportagem. Nele, o ex-prefeito Sérgio Mendes informava à Caprev que herdou dívida de R$ 8,4 milhões e pedia o parcelamento do débito.
Em 2006, durante o último ano da gestão de Rosinha no Governo do Estado, nova polêmica, dessa vez com o Prece, fundo dos servidores da Cedae. Na ocasião, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, houve “suspeita de desvio de dinheiro do fundo para uso político no governo Rosinha e o TCE decidiu realizar uma inspeção extraordinária no Prece”. O Tribunal de Contas do Estado teria indícios de que ao menos R$ 300 milhões poderiam ter sido desviados.
O caso do fundo dos servidores da Cedae foi parar na CPI dos Correios e havia uma proposta para derrubar os sigilos. Mas segundo a Folha de São Paulo, Garotinho articulou com o então deputado Eduardo Cunha (PMDB) para derrubar a proposta que pretendia abrir a caixa preta do fundo.
Em maio deste ano, a prefeita Rosinha (PR) sancionou a Lei 8.704/2016, a chamada “lei do crédito podre”. A lei autoriza a Prefeitura a parcelar a dívida que tem com o PreviCampos, referente a novembro de 2014 a abril de 2016, em até 60 meses e dando como garantia o “crédito podre” do Fundecam – dívidas que empresas têm com o Fundo de Desenvolvimento de Campos. O projeto foi aprovado pelos governistas. No dia seguinte, o Ministério Público Estadual (MPE), ajuizou Ação de Improbidade Administrativa contra a manobra do governo para cobrir o déficit. Para os próximos anos, este valor chegaria a R$ 1,5 bilhão, de acordo com relatório do então diretor financeiro do Previcampos, José Elimar Kunsch, e que consta na Ação do MPE.
Reconhecimento de dívida no ano de 2013
As transações do governo Rosinha envolvendo o Previcampos não são novidade. Em 12 de setembro de 2013, o Diário Oficial do Município trouxe termo de confissão de dívida, no valor de R$ 28.215.132,82, “correspondentes aos valores de contribuição patronal devidos e não repassadas ao regime próprio dos servidores públicos”. A informação é do blog do jornalista Ricardo André Vasconcelos.
O termo de acordo e parcelamento de dívida foi assinado entre a prefeita Rosinha Garotinho e o então presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Campos dos Goytacazes, Benilson Paravidino.
As parcelas de R$ 470.252,82 tinham previsão de começarem a ser pagas naquele mesmo mês. Não foi esclarecido, na ocasião, o período em que as contribuições retidas dos servidores deixaram e ser repassadas ao Previcampos.
Semana passada, a prefeita tentou aprovar na Câmara dos Vereadores o projeto de lei 0101/2016, que previa a dação de imóveis municipais ao Previcampos.
Porém, sem maioria no Legislativo e com forte pressão popular, a prefeita retirou o projeto da pauta na tarde da última sexta-feira (16), após quatro dias de muita polêmica.
No ofício encaminhado ao presidente da Casa Edson Batista (PTB), Rosinha afirmou que não existe “rombo” no Previcampos e que o instituto tem em caixa quase R$ 900 milhões para uma folha de pagamento mensal de R$ 12 milhões. A dação de imóveis, segundo Rosinha, seria preventiva para que os servidores não fossem prejudicados daqui a “10, 20, 30 anos”.
Nesse sábado (17), em rede social, a prefeita Rosinha voltou a afirmar que as contas estão sanadas e destacou que suas contas de todos os anos do governo foram aprovadas pela Câmara de Vereadores.
Rafael Diniz, Marcão e Nildo falam sobre caso
Para o vereador e prefeito eleito de Campos Rafael Diniz (PPS), até agora ninguém explicou exatamente a situação do Previcampos. O próprio presidente Nelson Afonso Oliveira esteve na Câmara, mas não levou nenhuma documentação. O caminho, de acordo com Rafael, será a realização de auditoria para ter ciência da situação.
Também vereador, Marcão (Rede) aponta que próximo governo terá que pedir cálculo atuarial do suposto deficit autorial junto à Caixa Econômica. Além disso, é preciso conhecer os valores devidos da Prefeitura e saber se houve utilização do caixa.
Líder da oposição, Nildo Cardoso (DEM) afirma que existe um rombo e será comprovado e concorda com a auditoria: “Por que o presidente da Previcampos foi à Câmara e não levou nada, nenhum documento? Na verdade, aquele projeto é porque eles não queriam comprometer o futuro político da prefeita”, disse.
Economista explica dação de maneira viável
Para o economista Ranulfo Vidigal a dação é viável, mas não da maneira que se tentou fazer: “A questão é a seguinte: um fundo de pensão/previdenciário equilibrado deve ter patrimônio líquido positivo, ou seja, o valor da sua carteira de seus ativos (aplicações financeiras + valor presente de suas receitas futuras de contribuição) deve superar o valor presente de seu passivo exigível que é o que ele tem de pagar no futuro pelas aposentadorias e pensões dos funcionários. Esse cálculo para os dias atuais revela que o Previcampos tem um forte desequilíbrio, que supera R$ 1 bilhão. Persistindo esse quadro a saída é aumentar a contribuição dos atuais funcionários ativos, ou reduzir o valor dos benefícios”.
Ranulfo destaca, ainda, que quando a taxa de juros é alta e as aplicações bem feitas (rendendo bem) isso pode se reequilibrar, mas a economia brasileira é instável com enorme variação no valor de ativos financeiros: “Hoje há uma contribuição mensal que sai dos funcionários ativos de algo em torno de R$ 8 bilhões, contra aposentadorias e pensões de R$12 bilhões, mas no futuro as pessoas vão ter de se aposentar e o desequilíbrio tende a se consolidar”.
Porém, ressalta: “Dar imóveis em dação pode não gerar fluxo futuro de recursos, caso a renda desses não se revele a altura das necessidades. Tem que analisar se nos anos mais recentes houve uma adequada aplicação de recursos do fundo, ou se alguma negligência nas aplicações/recebimentos gerou algum desequilíbrio. Assim dizer que tem R$ 1 bilhão em caixa não diz absolutamente nada. Pode ter este valor em caixa e estar aplicando mal ou deixando de receber o devido e assim desequilibrar a relação entre ativo e passivo (exigível) a médio e longo prazos. Por isso, resolvido a toque de caixa na última semana de um governo que se vai não pode ser”, conclui.
Fmanha/Show Francisco