Secretário de Segurança, Roberto Sá, chamou as declarações do ministro de acusações genéricas e disse que esses comentários “não contribuem para nada”Foto: Divulgação
As declarações atribuídas ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, criticando a política de segurança pública do Rio de Janeiro, com ênfase na atuação da Polícia Militar, desencadeou reações da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro e da própria PM.
Em nota, as duas instituições repudiaram as falas do ministro ao jornalista Josias de Souza, do UOL, publicadas nesta terça-feira (31), afirmando, por exemplo, que o governador do Rio e o secretário de Segurança não controlam a PM. Na entrevista, Torquato Jardim também diz que “comandantes de batalhões são sócios do crime organizado no Rio”.
O ministro ainda afirmou estar convencido de que o assassinato do tenente coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do batalhão do Méier, não foi resultado de um assalto. De acordo com o blog, o ministro disse que o coronel foi executado por um acerto de contas.
À GloboNews, o secretário de Segurança, Roberto Sá, chamou as declarações do ministro de acusações genéricas e disse que esses comentários “não contribuem para nada”. O representante da pasta se disse indignado e acrescentou que a fala do ministro é injusta com os mais de 50 mil PMs do estado.
“Acusações como essa, comentários genéricos, não contribuem para nada. Mas eu quero sim, notícias completas para eu investigar, punir e demitir. Ou, que outras polícias até façam as prisões. Não serve para trabalhar comigo quem pratica a corrupção e tem desvio de conduta. Então, eu vou aplaudir e agradecer. Mas comentários genéricos como esse são injustos com os mais de 50 mil policiais militares. O comandante que morreu voltava de uma cerimônia fardado e num carro descaracterizado… Era muito querido e respeitado profissionalmente”, disse Sá.
Sobre a morte do comandante do 3º BPM (Méier), coronel Luiz Gustavo Teixeira, Sá explicou que a linha de investigação da Delegacia de Homicídios, que investiga o caso, aponta para um assalto. Caso se tratasse de um “acerto de contas”, o secretário afirmou que isso não seria escondido.
“E a linha de investigação da Delegacia de Homicídios, que presta um serviço exemplar no Rio de Janeiro, sinaliza para a reação a um assalto. Se tivesse algum indício de execução, ou de acerto de contas, não esconderíamos. Não estamos aqui para esconder nada de ninguém”, afirmou o secretário.
Também nesta terça, deputados estaduais disseram que vão cobrar da Procuradoria Geral da República uma investigação sobre as falas do ministro. Em reunião, os parlamentares expressaram indignação com as afirmações de Torquato Jardim.
ÍNTEGRA DAS NOTAS DA PM E DA SECRETÁRIA DE ESTADO DE SEGURANÇA:
POLÍCIA MILITAR
“As declarações do Ministro da Justiça, Torquato Jardim, vinculando comandantes de batalhões da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro ao crime organizado, são de uma irresponsabilidade inadmissível e merecem o nosso mais veemente repúdio.
Ao generalizar acusações sem qualquer base comprobatória contra uma instituição bicentenária, as declarações do Ministro Jardim revelam, no mínimo, desrespeito e desprezo ao esforço descomunal empreendido por milhares de policiais militares que, não obstante a dificuldades de toda ordem, não têm medido esforços para defender a sociedade do nosso estado.
Vale lembrar que até a presente data, perdemos 113 companheiros de farda, vítimas de um quadro de violência formado por inúmeras variáveis e sobre o qual a Polícia Militar não pode ser responsabilizada.
Muito pelo contrário, no enfrentamento diário aos criminosos, somente este ano efetuamos mais de 20 mil prisões e apreendemos mais de cinco mil armas de fogo. A grande maioria dessas armas é fabricada em outros países. Fuzis com alto poder ofensivo e pistolas sofisticadas chegam às mãos de criminosos por uma articulação do tráfico internacional de armas, cuja repressão transcende a atuação das forças de segurança estaduais.
Em relação à morte do Coronel Luiz Gustavo Teixeira, citada também nas declarações do Ministro Jardim, cabe esclarecer que o oficial de conduta ilibada estava uniformizado, pois voltava de uma cerimônia de posse em outro batalhão da Corporação.
E foi assassinado numa tentativa de assalto, como quase todos os policiais militares, que, ao se depararem com criminosos, não têm outra alternativa senão matar ou morrer. A banalização da vida, revelada nesse crime hediondo, é resultado também de um código penal anacrônico, cuja revisão também não é atribuição da esfera estadual.
Por fim, vale registrar ainda nossa repulsa a denúncias contra uma Corporação que não aceita e pune com todo rigor qualquer desvio de conduta em suas fileiras, como pode ser comprovado pelo trabalho da Corregedoria Interna da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.”
SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA
“O secretário de Estado de Segurança, Roberto Sá, revela sua indignação com as falas atribuídas ao ministro da Justiça com acusações ao Comando Geral da PM e aos comandos dos Batalhões.
Em relação ao assassinato Coronel Luiz Gustavo Teixeira, profissional respeitado e muito querido, que estava fardado e não à paisana no momento do crime, as primeiras linhas de investigação da Divisão de Homicídios apontam para a tentativa de roubo.
Sá informa ainda que vinha recebendo, pessoalmente, do Ministério da Justiça manifestações de solidariedade e apoio que não coadunam com o conteúdo divulgado.
Roberto Sá refuta totalmente as interferências políticas tendo colocado como premissa básica para assumir o cargo a total autonomia para a escolha dos comandados. Sá reafirma que o Comandante Geral possui autonomia para as escolhas de comandantes de batalhões, feitas por critérios técnicos.
Esclarece que, a despeito de todas as crises pelas quais o estado passa, incluindo a financeira, que afeta diretamente a remuneração dos agentes públicos, bem como qualquer investimento ou custeio, a Secretaria de Segurança, por meio do incessante trabalho das Polícias Civil e Militar, vem mantendo a produtividade em ações, bem como conseguindo reverter a tendência de aumento de alguns indicadores de criminalidade, reduzindo importantes crimes.”