Vagner Basilio
O
deputado Geraldo Pudim (PR) retornou nesta segunda-feira (21/01) à cracolândia,
no bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, onde foi buscar depoimentos de
dependentes químicos, com o intuito de fortalecer a ideia da criação de uma
comissão específica para o assunto na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
(Alerj) no intuito de debater e encontrar medidas para atender a uma
demanda que presuma-se ser de pelo menos 300 pessoas que circulam somente pelo
local.
Em
entrevista à equipe de reportagem que os acompanhou, o deputado, após passar
maior parte da manhã conversando com dezenas de dependentes, fez uma avaliação
do que acabara de constatar e da expectativa relacionadas aos caminhos a seguir
no primeiro momento. Geraldo Pudim, em sua
primeira missão oficial na Alerj no último dia 18, visitou
a cracolândia analisando que a situação degradante e a miséria humana são
algumas das muitas constatações que se pode fazer a primeira vista.
“Fomos
conversar com as vítimas desse sistema injusto produzido pela sociedade
brasileira e nesse caso em especial do Rio de Janeiro, onde falhou o poder
público, a escola, a saúde, as instituições e igrejas. Essa falha conjunta
produziu essa grande quantidade de dependentes químicos e segundo relatórios do
Ministério Público Estadual (MPE) já são mais de 6 mil usuários de crack
somente no Rio de Janeiro”.
Após
conversas que foram gravadas para a formatação de material que será apresentado
na Alerj para a proposição da audiência pública, Pudim destacou a forma como os
dependentes se dizem vistos pela sociedade. “O que mais me chamou atenção foi
quando eu perguntava a eles como achavam que a sociedade os enxergavam, e a
palavra que mais surgiu foi lixo, ou seja, ‘são vistos como um lixo pela
sociedade’. Então essa situação me chocou muito. Detectamos que nada tem sido
feito de forma eficaz para atendimento a esses usuários”, declarou o
parlamentar.
A
leniência do poder público, em muitos casos esconde histórias particulares por
trás da realidade das drogas . “Verificamos vários profissionais qualificados e
que se mostraram capazes de estarem trabalhando e produzindo. Eles diziam a
famosa frase ‘cabeça desocupada, oficina do diabo’, relatando que se tivessem
uma oportunidade de emprego e carteira assinada não teriam tempo de estarem
ali. Vimos que mais de 90% quer, mas não tem condição de sairem sozinhos desta
realidade, e nem será com o tratamento que hoje é dado que vão conseguir êxito.
Hoje são levados para um abrigo em Santa Cruz e tratados com drogas potentes
(remédios), mas bem ao lado, tem uma boca de fumo, uma fonte de fornecimento de
drogas ilícitas, com a entrada e saída do abrigo livre”, relatou.
Ao ser
indagado acerca dos usuários que mais lhe chamaram a atenção por seus notáveis
talentos Pudim afirmou ter ficado impressionado com um artista plástico.
“Detectamos lá um artista plástico, também um garoto que nos contou que fez uma
peça de teatro há alguns anos e que gostaria de retornar aos palcos; outro que
foi jogador de futebol, e aos 22 anos, tem o sonho de voltar a jogar, ele que
teve passagem nas divisões de base de um dos mais estruturados clubes desse país,
que teria sido o São Paulo; encontramos um artesão, que produz peças
lindíssimas. Então dentro dessas atividades todas com as devidas assistências,
é possível se preencher os requisitos para os dependentes que precisam se
ocupar”.
O
deputado lembrou a proposta de Brizola e do professor Darcy Ribeiro com o
projeto dos Ciep’s. “Há anos Brizola e o professor Darcy Ribeiro falavam da
necessidade de uma nova geração que pudesse estar inserida dentro da concepção
filosófica e ideológica dos Ciep’s dispondo de escola em tempo integral, que há
época em que funcionavam, não permitiam que as crianças tivessem tempo livre
para o contato com uma sociedade degradada, e neste processo, podiam ter um
contato com o mundo propositivo, com atividades educacionais, culturais,
esportivas, médicas, de lazer e atividades profissionais”.
A crítica
direta a política adotada pelo poder público foi evidenciada exatamente no
depoimento de todos os usuários ouvidos. “As ações do poder público se
apresentam a eles como bombas, choque elétrico, gás de pimenta, pancadaria e
cassetete, colocando todos para correr, o que fatalmente causa a fuga para a
pista principal, a Avenida Brasil que todos os dias é palco ou de atropelamento
que causa mortes ou prejuízos físicos muitas vezes irreversíveis. Onde estão,
são impedidos de correr para a comunidade, e, assim, ficam acuados e a fuga é
para pista .”, disparou Pudim em sua segunda visita ao local.
A
propositura de uma audiência pública na Alerj será o primeiro passo para uma
discussão que integrará todas as instituições que de alguma forma podem e devem
estar associadas ao debate.
“Para que
tenhamos uma ampla discussão com a participação de todos vamos propor uma
audiência pública para logo depois do carnaval. Conversei hoje com o deputado
estadual Marcelo Freixo (Psol) que é presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Alerj, e que tem um relatório que foi feito de visitas em abrigos
especializados para crianças e adolescentes do Estado. Vamos rediscutir o
assunto. Recebi uma denuncia grave e que me causou além de preocupação, muito
espanto, e quero chamar a atenção de todos que estão, lendo, ouvindo ou
assistindo, de que vão retirar das ruas os dependentes e ninguém sabe para onde
serão levados. Um chegou a dizer que iriam para Ilha Grande, que não tem
nenhuma estrutura e aí vai virar um apartheid. Ninguém pode precisar o que
seria dessas crianças, adolescentes e adultos. Isso não vamos permitir, pois
seria um absurdo”.
A
audiência pública tem que ser proposta por uma das Comissões da Casa.
“Diferentemente do que acontece no Congresso Nacional, só quem pode propor a
audiência são as comissões, e, desta forma, falamos com o deputado Marcelo
Freixo, presidente da Comissão de Direitos Humanos que se dispôs a fazer
conosco uma audiência pela Comissão, onde poderei participar e convidaremos
todas as instituições como Ministério Público; Secretarias Nacional, Estadual e
Municipal de Saúde; Infância e Adolescência; Secretaria Nacional de Diretos
Humanos; Ordem Pública, a Secretaria Estadual de Segurança Pública entre outras
como a OAB, a Unesco, Unicef e a Arquidiocese do Rio de Janeiro e as entidades
que representam os evangélicos”.
“Quero
destacar ainda que no mínimo cinco dependentes químicos, principalmente
craqueiros, vão ser convocados para estar debatendo aqui na Alerj com a gente.
Eles são a parte mais importante e interessante nessa história, pois são eles
que vivem e podem até mesmo nos apontar caminhos de solução. Falhamos todos nós
e agora temos que nos unir para encontrar uma solução”, finalizou o deputado
Geraldo Pudim.
Ascom